26/09/2006
“Vivendo neste mundo de sofrimento, devemos ser,para este mundo, os profissionais da esperança”. (A. M. Carré)
Nestes primeiros meses do ano, uma movimentação política está agitando várias cidades no sentido da criação de novos cursos de medicina.
Ocorre que, ser dono de uma escola médica particular em nosso país tornou-se um negócio extremamente lucrativo. As mensalidades desses cursos giram em torno de 4 mil reais.
O saudoso senador Darcy Ribeiro estava certo quando disse: “O Brasil é o único país do mundo, que permite ao sujeito criar uma escola – como uma padaria ou açougue – para ganhar dinheiro.”
Como se não bastasse o Brasil ter alcançado a liderança mundial com 159 cursos de medicina, deixando para traz a China com 150, a Índia com 140 e os EUA com 125, comenta-se que, no Paraná, a UFPR deverá criar, em campi avançado, dois cursos de medicina: um em Paranaguá e outro em Palotina ou Toledo. Outros estão com programados para serem criados em São José dos Pinhais, Ponta Grossa (reabertura do que foi fechado pelo governador Requião), Umuarama, Guarapuava, Apucarana, Pato Branco, mais um em Londrina e outro em Arapongas.
No Estado de São Paulo, as projeções estão focadas em escolas médicas para Adamantina, Franca, Barretos, Jaú, Guarulhos (2 cursos), Osasco, Bauru, Piracicaba, Limeira, Araras, Diadema, Guarujá, São José dos Campos, Araçatuba, Ourinhos, Assis, Itapetininga; Campinas (2 novos cursos), Centro Universitário São Camilo, UNIP, Anhembi, São Marcos, Ibirapuera, Unisantana, São Judas Tadeu, Unicsul e Morumbi.(29 cursos)
Já no Rio de Janeiro, a Universidade Severino Sombra vai criar um campus avançado com curso de medicina no município de Porto Real, outros em Nilópolis, Três Rios, Campos, Belfort Rocho, Niterói, Nova Friburgo, Cabo Frio, Barra Mansa e São Gonçalo.(dez cursos)
Em Minas Gerais uma escola médica na Ufop de Ouro Preto, outros em Itaúna, Betin, Contagem, Divinópolis, Ibirite, Patos de Minas, Ribeirão da Neves, Santa Luzia, Sete Lagoas e Varginha.(11 cursos)
No Rio Grande do Sul - em Alvorada, Bagé, Cachoeirinha, Cruz Alta, Erechim, Gravataí, Guaiba, Ijuí, Novo Amburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Santana do Livramento, Uruguaiana e Viamão. (14 cursos).
Em Santa Catarina - para Jaraguá do Sul, Palhoça e São José. (3 cursos)
No Estado do Pará - em Ananindeua, Castanhal, Marabá, Santaré, e Belém (6 cursos)
No Estado de Goiás - em Aparecida de Goiânia, Rio Verde, Anápolis e Goiânia. (4 cursos)
No Estado do Mato Grosso do Sul - em Três Lagoas, Corumbá e Ponta Porâ (3 cursos)
No Estado de Mato Grosso - em Tangará da Serra, Rondonópolis e Várzea Grande. (3 cursos)
Em Pernambuco - nas cidades de Jaboatão dos Guararapes e Olinda. (2 cursos)
No Estado do Maranhão - em Timon e Imperatriz.(2 cursos)
No Estado da Paraíba - em Santa Rita. (1 curso)
No Estado do Piauí - em Parnaiba. (1 curso)
No Estado do R.G. do Norte - em Parnamirin (1 curso)
No Acre - em Cruzeiro do Sul. (1 curso)
No Amapá - em Santana. (1 curso)
No Amazonas - em Paratins.(1 curso)
No Estado de Rondônia - em Ji Paraná.(1 curso)
No Estado de Tocantins - em Palmas.(1 curso)
No Estado de Alagoas - em Arapiraca.(1 curso)
No Ceará - em Caucaia. (1 curso)
TOTAL = 107 novos cursos
Recentemente, Fidel Castro e Hugo Chaves declararam que pretendem formar 100.000 médicos nos próximos 10 anos. Sem um exame prévio para aferir conhecimentos aprendidos nas escolas médicas brasileiras e em outros países como Bolívia, Cuba, Venezuela e Argentina, onde milhares de brasileiros cursam medicina, este verdadeiro “festival de escolas médicas” é extremamente preocupativo.
O resultado disso, com certeza, será a banalização da medicina como profissão. Será como disse, certa vez, o ex.governador da Bahia, Nilo Coelho, numa demonstração de desprezo à classe médica baiana que o pressionava em frente ao palácio do governo, na busca de melhores salários: “para mim, médico é como sal, branco, barato e eu encontro em qualquer lugar”. Lamentavelmente, parece estar próximo esse dia.
Dr. Antonio Celso Nunes Nassif, 72, médico, professor aposentado da UFPR. Foi presidente da Associação Médica Brasileira. acnnassif@netpar.com.br