26/10/2009
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Desigualdade na distribuição de profissionais no País seria fruto da falta de oferta de cursos de especialização nas outras regiões
Lisandra Paraguassú, BRASÍLIA
O Brasil tem hoje 340 mil médicos formados, cerca de 1 para cada 560 habitantes. A cada ano, mais 10 mil saem das faculdades. No entanto, desse enorme contingente de doutores, mais da metade concentra-se em apenas quatro Estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e, em menor escala, Espírito Santo.
Isso porque neles estão também 60% das vagas de residências médicas no País. "Sabemos que o local onde o médico faz a residência é um fator de permanência para ele. Se adiantasse criar faculdades de Medicina no interior, o problema estaria resolvido. Mas o médico quer infraestrutura, uma possibilidade de avançar na profissão", avalia Francisco de Campos, secretário de Gestão de Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde.
Um mapa preparado pelos ministérios da Educação e da Saúde mostra que parte dos médicos formados e que fazem residência na Região Sudeste até vai trabalhar no Norte e Nordeste - provavelmente, aqueles que têm origem nessas regiões.
Essa conclusão é plausível porque apenas 14% das vagas de residência estão no Nordeste, mas 19% dos médicos formados trabalham lá. No Norte estão 3% das residências, mas 4% dos médicos. "O número de médicos hoje no País seria suficiente para atender à população, mas temos um problema de distribuição de profissionais", diz Campos. "Mas Estados como Tocantins, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá, por exemplo, têm uma oferta diminuta de residências." É por conta desse perfil que os ministérios decidiram ampliar a oferta de bolsas pagas pelo governo federal, passando de 1,7 mil vagas a cada ano para 2 mil (mais informações nesta página).
No total, o País tem mais de 10 mil vagas de residência por ano, em hospitais e universidades privadas, estaduais e municipais, além das pagas pelo governo federal. Seria o suficiente para os pouco mais de 10 mil formandos anuais, não fosse o fato de que algumas faculdades não têm qualidade suficiente para permitir que seus alunos sejam aprovados já no primeiro ano em um programa de residência.
Essa deficiência, associada à oferta mal distribuída de vagas, aprofunda a situação de carência em diversas regiões. O estudo das duas pastas também levantou as especialidades mais em falta nos hospitais. Gestores reclamaram da ausência, em primeiro lugar, de pediatras. Depois, fazem falta anestesiologistas, psiquiatras, neurologistas e médicos para atendimento de urgências e emergências. Apenas em terceiro lugar aparece o fato de os profissionais considerarem baixos os salários oferecidos no sistema público.
GERIATRIA - O plano lançado pelo governo federal inclui a prioridade de novas bolsas para as áreas em que há escassez de profissionais e para outras que, se ainda não são um problema, devem se tornar, em pouco tempo, uma dor de cabeça para os gestores dos hospitais. Uma delas é a geriatria - em um País onde a proporção de idosos cresce a cada ano, o número de médicos geriatras não aumenta proporcionalmente.
O plano, no entanto, é de longo prazo. As 2 mil novas vagas serão ofertadas até 2011. Os ministérios reconhecem que em alguns locais não existe estrutura para a criação de programas de residência. A intenção é que instituições candidatas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste se associem a outras com programas já consagrados para montar sua proposta, treinar profissionais, criar uma infraestrutura. No entanto, isso leva tempo. Não devem ser criados novos programas no prazo de um ano.