Escolas Médicas do Brasil

Batalhão de médicos

 10/03/2010

 

MARINA ARANHA
Especial para a Gazeta

Ribeirão Preto é a segunda cidade do Estado em número de médicos por habitantes, com taxa de 6,13 para cada mil moradores do município. O número só é menor que o da cidade de Santos, que registra 6,34 profissionais por mil habitantes. Quando analisadas as regiões que pertencem a delegacias do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), a de Ribeirão assume o primeiro lugar do Interior no ranking, com 2,86 médicos para cada mil habitantes. Em sua frente, apenas a Capital, com taxa de 4,31.

De acordo com o conselheiro regional do Cremesp, Isac Jorge Filho, os profissionais se instalam em regiões em função de conveniências, mas não há qualquer política pública que incentive a adequação do número de médicos à necessidade das cidades e regiões. "Ribeirão Preto, por exemplo, tem três grandes faculdades de medicina, mas é difícil controlar, porque o tipo de economia do País, que é capitalista, estimula as escolhas pela remuneração e não pelas diferenças sociais", afirmou.

Para o pediatra Gilberto Soares Gaspar, o alto número de médicos em Ribeirão pode representar dificuldades a quem está começando. "Eu já sou formado há mais de 20 anos, estou estabelecido, mas acho que deve ser difícil para os novos médicos. Arrumar uma clientela boa, por exemplo, é complicado. Por isso, muitos trabalham em mais de um emprego", afirmou.

E a pesquisa do Cremesp comprova a afirmação do pediatra. De acordo com os dados, mais de 30% dos médicos do Estado têm mais de quatro empregos. Apenas 18% têm um único vínculo profissional. Para o conselheiro regional do Cremesp, essa opção compromete o atendimento. "Com mais de um trabalho, o profissional não tem tempo para atender com calma cada paciente e esse é um dos fatores envolvidos na qualidade", analisou.

Ainda de acordo com Jorge Filho, o Cremesp luta por um plano de carreira ou salário, para distribuir os profissionais pelas regiões de acordo com as necessidades da população. "A rede publica paga mal e oferece condições de trabalho ruins, e aí acontece o que se vê em Ribeirão. Abrir concurso e não preencher as vagas. É um paradoxo estranho, já que sobram médicos."

Problema é a distribuição

Ribeirão pode se gabar por estar bem acima do que preconiza a Organização Mundial de Saúde -segundo o órgão, uma cidade deve ter um médico para cada mil habitantes. Mas para o conselheiro regional do Cremesp, Isac Jorge Filho, o problema da região de Ribeirão Preto é a distribuição dos profissionais. "A região tem uma concentração de médicos similar a dos Estados Unidos, que tem 2,4 para cada mil habitantes. O problema não é a quantidade na distribuição, mas a qualidade dela", disse. Segundo o pediatra Gilberto Soares Gaspar, a cidade de Ribeirão concentra algumas especialidades de médicos e sente falta de outras. "Aqui tem muito ginecologista e clínico geral, por exemplo. Já alguns profissionais, como os de neurologia pediátrica, temos dificuldades em encontrar", afirmou. (MA)

 

 

 

 


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