Escolas Médicas do Brasil

Financiamento estudantil de longo prazo exige cautela

 11/10/2012

Com queda dos juros, total de operações disparou; antes de tomar crédito, estudantes e famílias devem considerar corte de gastos

08 de outubro de 2012 | 0h 07

Mariana Congo, do Economia & Negócios

SÃO PAULO - Depois de pagar a mensalidade da faculdade particular durante um semestre, a estudante de fisioterapia Natália Oliveira, de Recife, percebeu que a conta não ia fechar. "Se continuasse daquele jeito, meu orçamento ficaria muito apertado", conta. Na faculdade, ela ouviu falar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) como alternativa para pagar os estudos. "O que me atraiu foram os juros. Sei que não vou ter surpresa na hora de pagar."

Por meio do Fies, Natália financiou 50% dos estudos desde 2007. A formatura foi em agosto e, ainda sem emprego fixo, ela tem carência até o próximo ano para começar a pagar a dívida na Caixa. O crédito estudantil é uma opção para estudantes que não têm condições de pagar uma faculdade particular ou que desejam ter poder de fogo para fazer um curso mais caro.

Na avaliação do consultor financeiro Rogério Olegário do Carmo, antes de assumir uma dívida, o estudante e sua família precisam considerar todas as opções, como cortar gastos ou ter um trabalho remunerado extra. "Todo crédito tem o ônus dos juros."

O Fies é a principal linha de financiamento estudantil disponível no mercado. Em 2010, o fundo se tornou uma opção mais atrativa para os estudantes, quando os juros foram reduzidos de 9% para 3,4% ao ano. O benefício da taxa menor foi estendido aos contratos antigos, como o de Natália. Além da Caixa, o Banco do Brasil começou a operar a linha.

O prazo de pagamento do Fies é de três vezes o tempo de curso mais 12 meses. Já a carência para começar a pagar a dívida é de 18 meses. Uma graduação de 4 anos de duração pode ser paga em até 13 anos, por exemplo. Durante o curso, o aluno tem a obrigação de fazer um pagamento trimestral de R$ 50.

Olegário ressalta que, embora os juros sejam baixos, é preciso considerar as consequências de uma dívida de longo prazo. "Em 13 anos podem acontecer muitas mudanças na vida de uma pessoa e na economia do País." Como exemplo, o consultor financeiro cita a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,5%. Segundo ele, se a taxa mantiver uma trajetória de queda, um financiamento a 3,4% ao ano pode ficar caro no futuro. "É importante evitar financiamento de longo prazo."

No Banco do Brasil, em dois anos de operação do Fies, a instituição percebeu um perfil de estudante predominante com idade entre 21 e 30 anos. O valor médio das mensalidade financiadas está em queda. Em 2010, era de R$ 749. Agora está em R$ 720. "O modelo do Fies hoje é mais acessível e desburocratizado. É uma linha que ganha cada vez mais importância dentro da carteira de crédito do banco", diz o diretor de empréstimos e financiamentos do Banco do Brasil, Marcelo Labuto.

Juros mais baixos do que outras linhas, prazo estendido e carência para começar a pagar a dívida são características comuns ao crédito estudantil. O Fies financia até 100% da faculdade. São aceitos estudantes com renda familiar mensal bruta de até 20 salários mínimos. O perfil predominante é o de alunos das classes C, D e E, com 95% dos contratos, segundo o diretor de gestão de fundos e benefícios do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Antônio Corrêa Neto. "O Fies tem compromisso com os estudantes de renda mais baixa", diz o diretor.

A linha Pravaler, da Ideal Invest/Itaú Unibanco tem 30 mil contratos desde 2006. Diferente do Fies, os juros são de até 1,99% ao mês, ou 26,68% ao ano. Apesar disso, a empresa acredita que atende ao perfil de público que não se enquadra no Fies.

 


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