12/09/2008
Colunistas / Déborah Pimentel | |||||
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As inscrições para o próximo vestibular da UFS já se encerraram. Geralmente entre aqueles que desejam fazer Medicina poucos foram mordidos pela dúvida. São sempre os melhores da classe e sabem (em tese) do próprio potencial. Esta certeza nos preocupa. Eles não sabem o que os espera. O perfil destes alunos é diferenciado: estudiosos, perfeccionistas, mais maduros e responsáveis que a média e, não raro, são tensos e preocupados acerca do seu desempenho escolar, temendo, inclusive, frustar as altas expectativas dos pais. São obsessivos por natureza. Eles estão chegando às universidades cada vez mais cedo. Existem vestibulandos com 15 anos de idade. Nesta idade, por mais determinados que sejam, nos perguntamos se as escolhas são próprias ou se o sonho do jaleco branco não é da família, dos pais, por exemplo, que muitas vezes são médicos também. Com tanta precocidade e excesso de “questionáveis” certezas, a formação médica e a prática em saúde podem levar estes jovens a situações de riscos diante dos elementos estressores, próprios dos acadêmicos de Medicina, deixando-os vulneráveis aos transtornos psíquicos. Os alunos de Medicina, a cada nova disciplina que estudam, identificam-se com os sintomas, objetos de seu estudo, tornando-se ansiosos e desenvolvendo uma hipocondria muito própria entre eles. Um em cada cem alunos, não suporta as pressões e desiste do curso para desespero dos seus pais. Por mais paradoxal que pareça, diríamos que este está salvo. Outrossim, há aqueles alunos, a grande maioria, que insistem no curso, mesmo sofrendo, e adoecem seriamente. São comuns, entre médicos, desde o período de acadêmicos, as somatizações e funcionamentos psicóticos e até perversos, com profissionais que ignoram o auto-cuidado. A indústria da loucura desenvolvida entre profissionais médicos cresce assustadoramente. Médicos nestas condições põem em risco a saúde da população e a sua própria segurança. Neste meio de campo, fragilizado pela própria formação e sofrendo diante de tantas vicissitudes de sua prática com excessos de responsabilidades, cobranças sociais, baixo reconhecimento, ínfimos salários e más condições de trabalhos, o médico acaba desenvolvendo relações conflituosas com seus pacientes, seus pares, sua equipe e consigo mesmo. É hora de se fazer propostas de prevenção de doenças mentais para a categoria, garantindo a eles, qualidade de vida que favoreça um melhor desempenho ético de suas funções. Para tal, o médico precisa descer do seu pedestal e se reconhecer frágil, vulnerável e com limites. Certamente o inicio da vida universitária é o momento mais adequado para começar a sensibilizar os acadêmicos em relação aos aspectos psicológicos inerentes às suas escolhas e conscientiza-los das emoções e sentimentos que eles vivenciarão no exercício profissional. Estes programas preventivos poderiam estar inseridos na grade curricular do curso de Medicina, favorecendo a reflexão e deveriam ser complementares à disciplina obrigatória, Psicologia Geral, que se limita a apresentar inúmeras teorias psicológicas, sem entretanto, usar estes conhecimentos em benefício do próprio cuidador.
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