27/09/2008
A DESCOBERTA DOS RAIOS-X E O SEU LADO PITORESCO
A descoberta dos raios-X por Wilhelm Roentgen, em 1895, causou um impacto não somente nos meios científicos, mas também entre os leigos. Sabia-se que algo de extraordinário fora descoberto e previa-se uma nova era para a medicina.
O que mais impressionava as pessoas era o poder de penetração dos raios-X e a possibilidade de visualização do interior do corpo humano através das vestes e do tegumento cutâneo. A imagem obtida com os raios catódicos foi de início considerada como um tipo especial de fotografia.
A simplicidade dos primeiros aparelhos fez com que surgissem muitos amadores com instalações improvisadas, oferecendo fotografias com os misteriosos raios-X. Era comum, entre namorados, a troca de fotografias das mãos feitas com os raios-X.
Lojas de material fotográfico ofereciam componentes para a montagem de um aparelho simples de raios X que permitia reproduzir as experiências de Roentgen.
A imprensa de vários países noticiou a descoberta com grande destaque e houve diversas manifestações, partidas dos mais diferentes setores da sociedade.
A maioria de tais manifestações, veiculadas pela imprensa, era de admiração e louvor ao notável feito do físico alemão; algumas, entretanto, caracterizavam-se pelo lado ridículo ou pelo senso de humor.
Conforme relata Alan Bleich em seu livro The story of X-rays from Roentgen to isotopes (Dover Publ., 1960),
a radiografia passou a ser objeto de curiosidade e até de preocupação, pois invadia a privacidade do corpo humano, oferecendo do mesmo uma representação fotográfica inestética.
Uma loja de confecções de Londres chegou a anunciar a venda de roupas íntimas à prova de raios-X.
Um deputado, em New Jersey, nos Estados Unidos, apresentou um projeto de lei proibindo o uso, no teatro, de binóculo provido de raios-X.
Em New York a fluoroscopia era anunciada como "espetáculos de Roentgen", ao preço de cinco a 20 dólares.
A revista "Life", em fevereiro de 1896, publicou a seguinte poesia, de autoria de Lawrence K. Russel, que apresentamos em tradução livre:
"Ela é tão alta, tão esbelta; e seus ossos,
aqueles débeis fosfatos e aqueles carbonatos
tornam-se magníficos aos raios catódicos
pelas oscilações, ampères e ohms;
suas vértebras não se ocultam sob a pele,
mas tornam-se inteiramente visíveis.
Em torno de suas formosas costelas
em número de vinte e quatro
desenha-se um tênue halo de sua carne;
sua face sem nariz e sem olhos volta-se para mim
e eu sussurro: "querida eu te adoro";
seus dentes brancos e brilhantes sorriem.
Ah! doce, cruel, adorável catodografia".
A revista "Photography", na mesma época, contribuiu com esta outra poesia, que também apresentamos em tradução livre:
"Os raios Roentgen,
que viraram mania
e excitam a cidade
com a nova fase
de rumos futuros,
me deixam aturdido,
pois agora eu percebo
que se pode ver e mirar
através dos vestidos
com estes travessos raios,
malvados raios Roentgen".
Somente depois que se tornaram conhecidos os efeitos nocivos dos raios-X sobre o organismo humano é que o seu uso se restringiu aos hospitais e clínicas especializadas, inicialmente para fins diagnósticos e, posteriormente, também para fins terapêuticos no tratamento de neoplasias malignas.
Ainda assim, as primitivas instalações não ofereciam proteção adequada e muitos médicos e operadores de raios X foram vítimas das radiações, apresentando radiodermite nas mãos, que poderiam levar à amputação, e alta incidência de leucemia.
jan./2001
atualizado em abril/2002