Escolas Médicas do Brasil

Novas faculdades de Medicina - por César Augusto T. Weber

 03/06/2009

Opinião
Ângela Rocha | angela@gazetadosul.com.br
Novas faculdades de Medicina





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Tema recorrente em nosso meio, que se articula com maior ou menor fôlego dependendo da proximidade do período eleitoral, é o que se ocupa da abertura de novas faculdades de Medicina.

Aqueles que defendem essa tese, habitualmente políticos de primeira hora, sustentam suas argumentações em duas premissas básicas. A primeira, de natureza social, é aquela que busca responder ao dever constitucional do Estado de prover, com qualidade, a assistência à saúde da população. A segunda, de natureza econômica, trata de promover a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Ambos os raciocínios fundam-se na noção mágica de que a suposta pouca distância entre a comunidade, e uma nova Faculdade de Medicina seja o fator, por si só, de resolução dos problemas na saúde pública e na economia do local.

Ledo engano, para não dizer: uma falácia! Se for verdade que o fechamento de faculdades de Medicina, entre outros fatores pela má qualidade do ensino prestado, não é a causa das mazelas da saúde e da estagnação econômica de determinadas regiões, é também verdade que a abertura de novas faculdades de Medicina não será a solução para tais desafios.

A Organização Mundial da Saúde preconiza um médico para cada 1.000 habitantes. O RS possui, já há algum tempo, um médico para cada 500 habitantes. Portanto, aqui, não falta médico.

As cidades de Porto Alegre, Canoas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Rio Grande, todas com pelo menos uma Faculdade de Medicina em funcionamento, apresentam deficiências nas ações e serviços de saúde ofertados, comprometendo, muitas vezes, a consolidação do SUS. Da mesma forma, nenhum dos municípios citados pode prescindir de alternativas para alavancar a geração de emprego e renda. Assim, parece-me razoavelmente comprovado que a presença da Faculdade de Medicina não resolve tais questões.

A má distribuição de médicos no Estado, com a consequente realidade dual de dispersão e concentração em determinadas áreas decorre, de fato, da falta de um Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos no SUS, com carreira de médico associada a condições dignas de trabalho.

Para a promoção do desenvolvimento sustentado, econômico e social de uma região, o governo deve assumir a sua condição de catalisador junto ao mercado, mediante políticas públicas estimuladoras de investimentos, respeitando o talento e a aptidão de cada localidade.

Como podemos ver, a abertura de novas faculdades de Medicina não garante a melhoria na qualidade da assistência à saúde, e tampouco materializa-se, efetivamente, enquanto elemento vetorial de desenvolvimento econômico. Em outras palavras: como não falta médico, e a criação de novas faculdades de Medicina não atende à supremacia do interesse público, o meio de superar tais obstáculos inclui, inexoravelmente, a coragem política para fazer cumprir os compromissos assumidos, a profissionalização da gestão pública, e o afastamento dos gestores públicos do discurso demagógico e populista.

César Augusto Trinta Weber/Médico

A má distribuição de médicos no Estado, com a consequente realidade dual de dispersão e concentração em determinadas áreas decorre, de fato, da falta de um Plano de Carreira, Cargos e Vencimentos no SUS

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