04/05/2013
O Governo Federal já noticia que prevê afrouxar a revalidação de diplomas de médicos formados fora do país. A justificativa é meramente matemática: prendem-se à relação de médicos por habitantes no Brasil. Esquecem-se de que já formamos mais de 16mil médicos/ano e que temos o segundo maior número de escolas de Medicina, superando países como Rússia, Estados Unidos e China.
A grande questão é que há um processo teoricamente firme para a abertura e fiscalização das escolas médicas brasileiras: há duas avaliações in loco para credenciamento e reconhecimento da escola; em seguida há a avaliação trienal pelo ENADE, que degola vagas ou permite expansões de acordo com o desempenho dos estudantes, além das diretrizes curriculares que exigem quesitos mínimos de currículo e campos de prática. Fora do país, a questão é diferente: principalmente na América Latina, a carga-horária dos cursos de Medicina chega a ter metade da praticada no Brasil, os docentes têm baixa titulação e praticamente não há atividades práticas hospitalares. E outro ponto: sequer há vestibular.
Que o interior brasileiro precisa de médicos é fato incontestável. No entanto, lotar médicos a qualquer custo é um erro que acoberta outros: condições indignas de trabalho e total falta de estrutura. Assim, poucos são os que querem se arriscar, e pôr o paciente em risco, onde não se pode praticar uma boa Medicina.
A qualidade dos médicos importados é de conhecimento do Governo Federal. No exame nacional de revalidações, o REVALIDA, em 2012, menos de 10% foram aprovados. E vale considerar que o processo já foi “facilitado” sob pressão do Governo. Agora, mesmo tendo ciência da qualidade, deseja-se empurrar esses profissionais à população brasileira.
A pergunta que se faz é simples: “A Presidenta abriria mão de suas consultas em um dos mais bem equipados hospitais do país para se consultar com os médicos que deseja trazer ao Brasil?”. Se a Presidenta fizer isso de fato, não apenas por marketing, eu retiro o que digo... E me mudo para Cuba!
João Brainer Clares de Andrade
Acadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará
Autor do livro "Medicina na UECE: a década que levou ao máximo"
João Brainer Clares de Andrade
Universidade Estadual do Ceará
Curso de Medicina
(85) 9156.5510 / (88) 9993.1700