10/10/2011
“A liberdade é a possibilidade de duvidar, a possibilidade de cometer um erro, a possibilidade de procurar e experimentar, a possibilidade de dizer não a qualquer autoridade”.
(Ignazio Silone)
Quando na presidência da AMB, enfrentamos todos os problemas relacionados com o exercício da profissão médica, inclusive os aspectos inerentes à formação universitária. Está mais do que comprovado: as más condições de trabalho, o aviltamento dos honorários, o enfrentamento profissional competitivo, muitas vezes, desleal e constrangedor, a necessidade de subsistir e buscar recursos com o trabalho em vários lugares, as preocupações e incertezas com o futuro, acabam levando o médico brasileiro a envelhecer mais cedo, a deixar seus lazeres, sua família, e porque não dizer, morrer mais cedo.
A maioria paga anuidades para muitas das entidades associativas e também encargos legais municipais, estaduais e federais (paga para ser médico, trabalhar como médico, ganhar como médico, até colocar uma placa de médico no consultório). Depois, em abril, todos os anos, o IR leva 27,5 % do que eles ganham sofridamente.
Atualmente, não é fácil ser médico em nosso país. Estamos com 181 escolas médicas, muitas delas com sérias deficiências que estão sendo combatidas pelo MEC/SESu; a Comissão de Especialistas do Ensino Médico tem colaborado, e muito, evitando a abertura desenfreada de novos cursos como antigamente. Felizmente, as escolas médicas em funcionamento foram de certa forma contidas e forçadas a sanear suas deficiências. Estamos caminhando na direção certa.
Na Bolívia, em média 5.200 jovens brasileiros fazem o curso de medicina, em Cuba cerca de 2.000 e na Argentina, outro tanto. A crise aumenta porque, para registrar os diplomas nos CRMs, é preciso revalidá-los, o que não é fácil pelas regras exigidas e a má formação dada pela maioria das escolas estrangeiras.
Existem ainda duas agravantes: não há perspectiva no mercado de trabalho para tantos profissionais, Por sua vez, o “SUS” maior empregador neste país, finge que paga, e o médico, é induzido também, a fingir que atende. Uma tabela de honorários ridícula, inigualável no conceito de dar “gorjetas”, regulamenta os pagamentos pelos serviços prestados. Esse “fingir” é lamentável e triste para quem sonhou buscar uma profissão que lhe parecia sacerdotal. A população carente é quem sofre as conseqüências, porque depende exclusivamente dos serviços públicos de saúde. Com isto, a forma de atendimento passa a ser humilhante.
As operadoras de planos de saúde não ficam atrás. Têm como base de remuneração a Tabela da AMB de 1992. Simplesmente um absurdo. Uma consulta, na melhor das hipóteses é remunerada em 42 reais. Deduzindo o IR e custo operacional do consultório sobra ao médico R$5,33. (Veja essa matéria em ARTIGOS).
Por essas e outras razões é que pensamos: não basta apenas indignar-se. Cada um precisa fazer a sua parte, ajudando na busca da solução tão esperada. Ter esperança de que isso venha acontecer, significa repetir aqui e acreditar no que CHRISTIANE escreveu:
“Creia amigo, que a primavera há de vir, que o inverno terá fim, que a vida será bela nesse país que teremos construído...
Creia ainda, amigo, que oferecendo a nossa alegria àqueles que têm fome e frio, poderemos curar a doença e a miséria, nesse país que teremos construído...
“E creia ainda, amigo, que nossas forças unidas farão brilhar o sol nas noites escuras, para devolver a todos o sabor da esperança, nesse país que teremos construído...”.
___________________________________________________________
Antonio Celso Nunes Nassif, Doutor em Medicina, professor aposentado da UFPR. Foi presidente da Associação Médica Brasileira. (fevereiro de 2011)
acnnassif@netpar.com.br