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Paraná: Má distribuição de médicos afeta o interior do estado

 17/12/2007

 

PARANÁ | SAÚDE publicado na edição impressa de 17/12/2007

Má distribuição de médicos afeta interior do estado

Prefeitos pedem a ministro da Educação criação de cinco novos cursos de Medicina

por MAURI KÖNIG

  
 
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Hospitais sem médicos são cena comum no interior do Paraná
Hospitais sem médicos são cena comum no interior do Paraná
A Associação dos Municípios do Paraná (AMP) entregará hoje ao ministro da Educação Fernando Haddad um manifesto pedindo a abertura de cinco novos cursos de Medicina no estado: em Cascavel, Ponta Grossa, Foz do Iguaçu e dois em Maringá. Haddad está em Curitiba para o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), também chamado PAC da Educação. Os prefeitos do interior reclamam da falta de médicos. Mais um paradoxo da saúde pública. O Brasil tem 293 mil médicos na ativa, ou seja, 1,5 para cada grupo de mil habitantes. Segundo no ranking mundial de faculdades de Medicina, o país tem 172 cursos, 71 deles criados nos últimos sete anos.

O próprio presidente da AMP fala com propriedade do problema. Prefeito de Castro, Moacyr Fadel fez concurso em julho para preencher 16 vagas, mas só apareceram seis interessados. A cidade de 65 mil habitantes tem uma defasagem de nove médicos na rede pública. Tem 14 profissionais, quando precisaria de 23. O salário oferecido é de R$ 4,5 mil para 8 horas de trabalho, podendo chegar a R$ 6 mil com os benefícios adicionais. “Mesmo assim, não há interessados”, queixa-se Fadel. “Se aumentar mais o valor, não tem como pagar”, justifica.

Salário é seis vezes menor que o ideal
 
 
Há dois meses, pesquisa do Sindicato dos Médicos do Estado do Paraná (Simepar) revelou que 66% dos profissionais da área estão insatisfeitos com as condições de trabalho. Uma das causas é a baixa remuneração. Segundo a pesquisa, 75% deles têm vínculo com o sistema público e 79% prestam algum tipo de serviço ao SUS. Gostariam de ganhar entre R$ 6 mil e R$ 10 mil, mas um médico do município ganha R$ 1.057,00.

A pesquisa constatou ainda que muitos médicos trabalham em regime terceirizado, não têm direito a férias, nem a décimo terceiro salário. A baixa remuneração levou a Associação Médica do Paraná a elaborar um manifesto a ser enviado ao Ministério da Saúde. O argumento: os médicos do SUS deveriam receber pelo menos R$ 30 por uma consulta simples e não os atuais R$ 2. Seria 30% dos valores da tabela determinada pelas sociedades científicas.
Curitiba é o único município do Paraná em situação confortável. Há uma tendência dos médicos se concentrarem nas cidades maiores. A capital tem um médico para cada 600 habitantes, bem perto do índice de São Paulo, que é de um para cada 400 pessoas. Nem as cidades do interior conhecidas pela qualidade de vida conseguem atrair esses profissionais. Maringá fez cinco concursos em dois anos e ainda ainda assim faltam preencher 11 vagas do Programa Saúde da Família, mais 12 de Pediatria e 4 de Psiquiatria. Quanto menor a cidade, pior a situação.

O secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi, acredita que o problema não decorre tanto da falta de interesse do médico pelas cidades pequenas, mas pela falta desses profissionais. Diretor financeiro do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, ele diz que a reclamação é geral no país. Favorável à iniciativa da AMP de pedir ao ministro a abertura de novos cursos no Paraná, Nardi acredita ser possível regular o mercado pela lei da oferta e da procura. “Não existe saturação de mercado para o bom profissional”, diz.

Presidente por três vezes da Associação Médica Brasileira (AMB), o otorrino Antônio Celso Nunes Nassif é contra a abertura de novos cursos. Para ele, há médicos suficientes, só é preciso distribuí-los melhor. Nassif tem acompanhado os editais de concurso público e diz não ver ofertas capazes de atrair os médicos às cidades do interior. Ele supõe que um bom salário somado a benefícios como moradia, refeição, meio de transporte e local adequado de trabalho bastaria para tirar o médico do conforto de uma cidade grande e levá-lo a pequenos municípios.

Arquivo/Gazeta do Povo
Arquivo/Gazeta do Povo / Nassif: distribuição
Nassif: distribuição
“Se não completar este ciclo, ele não vai”, avalia. Segundo Nassif, qualquer médico ganha R$ 6 mil por mês na capital fazendo plantões. Contudo, o que seria atrativo incorre em dois problemas: nem todos os municípios têm dinheiro para pagar bons salários, e mesmo que tivesse, corre-se o risco de ferir a lei da isonomia salarial. Há leis municipais que impedem um servidor público de receber mais do que o prefeito. No Paraná, 80% dos municípios têm menos de 20 mil habitantes, e são raros aqueles em que o prefeito ganha mais de R$ 10 mil.

Em meio ao impasse, a AMP acredita que quanto mais médicos houver, maior será a probabilidade de haver quem se disponha a ir para o interior. Ainda assim Nassif é contra a abertura de novos cursos. O raciocínio dele é lógico: a faculdade não pode fazer vestibular fechado para quem mora na cidade e ninguém garante que o médico ficará ali depois de formado. Sendo assim, sugere então que se contrate os médicos brasileiros que estão se formando em Cuba. Para ele, seria melhor do que esperar mais de seis anos até a formatura da primeira turma dos novos cursos.


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