17/03/2008
Na falta de médicos nos postos, Amazônia leva a pior. |
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Segunda, 17 de março de 2008 | ||
Prefeituras não preenchem vagas e convênios propostos por deputados do Acre excluem médicos formados na Bolívia.
Mourão preocupa-se com cubanos e despreza a situação dos formados na Bolívia /M. CRUZ.
MONTEZUMA CRUZ \n montezuma@agenciaamazonia.com.br BRASÍLIA – Três mil municípios brasileiros estão sem médicos ou com profissionais abaixo do nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O prefeito de Itapuã do Oeste (RO), Robson Oliveira (DEM), disse à Agência Amazônia que foi à Bahia procurar profissional e não teve sorte: "Ninguém quis vir para cá. Do salário até gostaram, só que me perguntaram se havia praia e logo desistiram". Itapuã fica a 108 quilômetros de Porto Velho, no Vale do Jamari. Situações semelhantes se repetem em diversos municípios amazônicos. Há dez anos, Rondônia, Acre e Tocantins vêm contratando médicos cubanos.
A situação vai ficando cada vez mais complicada para brasileiros formados no Exterior e para os próprios médicos estrangeiros em atividade no País: resolução baixada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) impede que médicos brasileiros formados no Exterior e médicos estrangeiros façam residência médica aqui. Criou-se com isso um nó górdio que contribui para entravar o combalido atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios sem médicos e sem anestesistas. Há três anos, o próprio CFM reconheceu o sucateamento dos hospitais e da residência médica no País. A decisão acarreta prejuízos aos estados brasileiros em dificuldade para o preenchimento de vagas de médicos que atendem aos pacientes do Sistema Único de Saúde, especialmente a região amazônica A Comissão de Relações Exteriores aprovou com louvores o relatório do deputado Nilson Mourão (PT-AC) orientando os convênios entre universidades federais, para a revalidação de diplomas de médicos formados em Cuba. Mourão e a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), os senadores Tião Viana (PT-AC) e Sibá Machado (PT-AC) incentivam a assinatura desses convênios contemplando apenas os egressos da Escola Latino-Americana de Medicina em Cuba (Elam). O benefício não se estende aos médicos formados em universidades bolivianas. Viana, que é médico, há vários anos ampara médicos cubanos que trabalham no Acremédicos formados na Bolívia não tiveram a mesma sorte dos cubanos /VOZES
"Ano da revalidação" Os ministros da Saúde, José Gomes Temporão e da Educação, Fernando Haddad, consideram a medida um avanço. Eles classificam 2008 de "ano da revalidação". Segundo o deputado Nilson Mourão, o Conselho Nacional de Educação afirma existir similaridade entre a grade curricular cubana e a brasileira, no ensino de medicina. A possibilidade dos convênios recebeu apoio imediato da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Associação dos Pais e Amigos dos Estudantes em Cuba e a da Coordenação do Núcleo dos Estudantes Cubanos. O lobbie dos pais de médicos formados na Bolívia não conseguiu essa conquista.
Em 2007 o Ministério Público em Manaus obrigou a Universidade Federal do Amazonas a paralisar a revalidação, até a solução da pendência tida com um grupo de médicos formados na Bolívia, que se submeteram à prova na instituição e denunciaram a ocorrência de fraude na prova. Há casos de médicos formados há três anos e até agora não obtiveram a revalidação. Conforme relatório da OMS, o Brasil precisa de um profissional para cada mil habitantes. Os convênios formulados pelos deputados do Acre darão prioridade a regiões carentes. Para Perpétua Almeida, "não é justo submeter os alunos a uma espera maior ainda". A assessoria da deputada informou hoje que o reitor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Jonas Filho, já conheceu a minuta do convênio. A UFAC foi apontada entre as quatro instituições brasileiras "mais amadurecidas" para encaminhar o convênio, juntamente com as federais de Minas Gerais, Ceará, Amazonas e Rio de Janeiro. O governador do Acre, Binho Marques (PT) assumiu o compromisso de munir a Ufac das condições necessárias para que os convênios sejam assinados ainda este ano.
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