Escolas Médicas do Brasil

A sala de aula do futuro

 13/09/2008

 
13/09/2008 - 00:12 - Atualizado em 13/09/2008 - 12:40
 
A sala de aula do futuro
 
Ela é, ao mesmo tempo, sala de aula, biblioteca, laboratório de ciências, sala de artes e laboratório de informática
 
Laura Lopes

Lá tem internet wi-fi e computadores. Iluminação controlada, uma cópia de um esqueleto e de um torso humano, uma placa solar, uma pilha caseira, armários e um microscópio. Também tem um quadro digital touch screen e várias mesas que acomodam três pessoas (além do computador). Todas essas características formam a sala de aula inteligente, projetada para um modelo de educação do futuro (entenda como ela funciona no infográfico abaixo). E o professor? Também está lá e tem a função de relacionar todas essas mídias através de um ensino multidisciplinar. Na sala inteligente, os alunos não usam carteiras, mas sentam-se em grupos de três em estações de trabalho e tornam-se os autores de seu próprio aprendizado.

Essa idéia já é usada em algumas instituições de ensino do país – como nos laboratórios do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em um campus da Universidade Santo Amaro, de São Paulo, e no Projeto Jovem Cientista do Instituto Unibanco. Seu mentor, o especialista em novas mídias e tecnologia para a educação Cassiano Zeferino de Carvalho Neto, trabalha no projeto há 15 anos e conseguiu colocá-lo em prática só no ano passado, em uma escola de educação infantil bilíngüe, de Florianópolis. “Alguns autores dizem que o conhecimento mundial dobra a cada dois ou três anos enquanto a tecnologia de ensino está estagnada”, afirma o especialista, presidente do Instituto Galileo Galilei para a Educação (clique aqui para ver diferença entre a escola tradicional e a inteligente).

Segundo Carvalho Neto, o aprendizado que a escola de hoje permite é centrado na comunicação verbal e visual, que seriam o topo de uma pirâmide muito mais ampla. Esses saberes, no entanto, não são suficientes para educar o aluno contemporâneo. Para um ensino completo, que transcende decorar fórmulas e teoremas, seria necessário, além desses processos, o uso de mídias (áudio, TV e vídeo), vivências (em excursões e exposições), demonstrações ao vivo, dramatizações e experimentações dos mais variados tipos (diretas ou simuladas). Para o aluno aprender, segundo essa concepção, é preciso que ele experimente.

Ciberarquitetura
O professor defende uma “ciberarquitetura da sala de aula”, em que o espaço físico tradicional se aprofunda no espaço digital, experimentado pelos alunos tanto em classe como em casa, lan houses e outros lugares. A sala de aula também é biblioteca, laboratório de ciências, sala de artes e laboratório de informática. O conteúdo das aulas segue a recomendação do Ministério da Educação, mas a forma como são ministradas é totalmente inovadora.
O professor Cassiano mostra os equipamentos de pequeno porte usados na sala inteligente

Elas são agrupadas por projetos, as chamadas grandes áreas. Cada fenômeno a ser estudado é contextualizado, problematizado, investigado e modelado, de maneira que seja apreendido em seu sentido mais amplo. Os alunos são ativos, participam das aulas com pesquisas e precisam filtrar as informações que encontram na internet. Isso, defende Carvalho Neto, os torna mais capazes de gerir suas vidas. Em um projeto sobre energia, por exemplo, o professor inicia a aula mostrando, no quadro digital, um vídeo do YouTube de jogadas do Pelé. Em seguida, diz que os músculos do jogador são movidos por energia e pergunta de onde ela vem. Provocativo, responde que ele ingeriu energia nuclear, para aguçar a curiosidade dos alunos.

Ao longo desse processo, o aluno descobre que, para ter energia muscular, Pelé teve que se alimentar. Estuda, então, a transformação de energia no corpo humano e a pirâmide alimentar. O professor explica a fotossíntese das plantas e fala que o Sol (energia nuclear pura) é o grande responsável pela transformação de oxigênio em alimento para a planta. “Existe um processo de pesquisa, descoberta e investigação. Para explicar os passes de Pelé, o professor aborda temas da biologia, química e física, usando equipamentos digitais e não-digitais”, afirma o especialista. As aulas não são expositivas, mas interativas e com intensa pesquisa online. Os materiais usados ficam guardados dentro de armários – cada projeto tem o seu conjunto de equipamentos.

No Instituto Unibanco, Carvalho Neto capacita um grupo de jovens professores que se mostra feliz com o novo método. Depois das aulas, muitos permanecem em sala, discutindo, questionando e aprimorando sua própria didática. Um deles pede licença para se despedir do mestre: “Obrigado, professor. Estamos aprendendo muito”. Um pouco orgulhoso, um pouco tímido, o especialista dá um sorriso de realização.

 
 Escola tradicional x Escola inteligente

 

A escola tradicional A escola inteligente
O professor - Passa a maior parte do tempo explanando sobre a disciplina, falando e fazendo anotações no quadro-negro O professor - Na maior parte do tempo, propõe problemas para os alunos, coordena debates e orienta as pesquisas dos estudantes. Resume a aula expositiva ao mínimo necessário
O aluno - Fica em silêncio, ouvindo as explanações do professor e fazendo anotações em seus cadernos O aluno - É desafiado constantemente a solucionar problemas, pesquisar, criticar e debater temas ligados à disciplina. A conversa entre os colegas não só é permitida como estimulada
A disposição da sala - O professor permanece em pé, diante dos alunos, junto ao quadro. Os alunos ficam sentados em carteiras individuais, separados em fila A disposição da sala - O professor fica circulando entre os alunos, verificando o andamento dos debates ou da pesquisa, tirando dúvidas e dando orientações. Os alunos sentam-se em mesas de três lugares para estimular atividades em grupo
As atividades - Além de ouvir a lição do professor, o aluno responde a perguntas ou faz exercícios em livros e cadernos. As atividades práticas ficam condicionadas a horários e locais predeterminados As atividades - Os estudantes assumem o papel de pesquisadores, em vez de ouvintes. Passam a maior parte do tempo buscando respostas, debatendo e avaliando o trabalho de outros colegas
Recursos pedagógicos - Em classe, são utilizados cadernos, livros, quadro-negro e mapas, slides etc. Para usar outros recursos, os alunos costumam vão (em horários e dias específicos) para laboratórios de informática ou ciências, ou para uma sala de artes Recursos pedagógicos - Na mesma sala, há computadores, material de laboratórios de ciências e recursos da sala de artes. O professor pode estimular os alunos a encontrar um tipo de relevo num programa de mapas na internet e sugerir que eles reproduzam aquele tipo de terreno utilizando material como papel, massa e tinta
O tempo - O ensino é restrito ao horário escolar, isto é, à duração das aulas. Quando deixa a escola, o aluno estuda por conta própria ou completa uma tarefa elaborada previamente pelo professor O tempo - A aprendizagem não se limita à escola. Pela internet, em qualquer horário, o estudante pode participar de chats ou fóruns com os colegas, acessar materiais elaborados pelo professor e publicar o resultado de seus próprios estudos

 


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