11/03/2009
O custo da má qualidade (2) Texto publicado em 10 de Março de 2009 - | ||||||
por Hermann Gonçalves Marx * | ||||||
Nos últimos meses, tenho tido a oportunidade e o privilégio de conversar com muitos médicos de diversas especialidades. Digo privilégio porque me agrada sempre estar a par de como andam as coisas na economia e na administração em todos os setores. Particularmente, acho que houve uma evolução muito grande na administração de hospitais particulares, nas grandes cidades. Claro que há uma parte de show de marketing nas entradas suntuosas, nos bares e restaurantes que agora se encontram nos hospitais, ou nos pianos e lagos nos laboratórios. Mas, convenhamos que mesmo sendo um exagero, é agradável e, principalmente para aqueles que estão indo a esses lugares porque estão necessitando dos seus serviços, tudo isso minimiza o receio.
Por outro lado, as administrações dos hospitais públicos ou semipúblicos, isto é, aqueles que são administrados por entidades privadas mas sob orçamento público, ainda deixam muito a desejar.
Uma coisa que sempre me intrigou no atendimento público de saúde é o enorme contingente que aflui, diariamente, aos hospitais e clínicas nas nossas cidades. Comparo com outros países desenvolvidos e fico ainda mais perplexo.
No Canadá, há menos aparelhos para realização de ultrasonografia computadorizada do que em São Paulo, me dizia um dos médicos que encontrei. Porém, aqui demora-se mais para conseguir uma vaga para exame. Um motivo, seguramente forte, é que nossa população é mais mal tratada, desde recém-nascido. Portanto, apresenta mais problemas de saúde do que os canadenses. Outro motivo, porém comprovado, é que os médicos não atendem devidamente e corretamente os pacientes.
Não que esses médicos não queiram ou não saibam atender corretamente. É que eles são forçados a trabalhar com baixa qualidade. Explico: há uma busca por produtividade empresarial no setor médico hospitalar que é incompatível quer com o produto=doença, quer com o cliente=paciente.
Não é só nos hospitais públicos o problema. Também em clínicas e hospitais particulares que atendem aos convênios, a questão da quantidade de atendimento por hora se repete. Há especialidades médicas que não poderiam, ou não deveriam, atender um paciente em 15 minutos ou menos. Mal dá para perguntar o que o paciente sente. O médico faz o possível para não errar, mas nem sempre dá para garantir a melhor orientação ao paciente.
Consequência lógica. O paciente procura outro médico e a história se repete. Novamente uma falta de consideração, uma falta de respeito para com o outro, para com o cidadão.
Ganhar produtividade não é fazer mais rápido. É sim fazer corretamente no menor tempo, no tempo correto, para evitar aquilo que nas indústrias chamam de retrabalho, que é, este sim, um custo jogado fora, perda da lucratividade. Mas não somente na área clínica tem-se essa dificuldade. Também na área cirúrgica. Os médicos são forçados a fazer apenas o número de cirurgias adequado ao administrador ou ao convênio.
Pior do que isso, os médicos são obrigados a trabalhar com material de segunda categoria, em muitos casos. Invariavelmente os pacientes retornam num prazo curto, e nova cirurgia corretiva precisa ser realizada. Sofrem os médicos e sofrem os pacientes.
Na busca de lucratividade sem coerência, a qualidade fica em segundo lugar. Quanto dinheiro o País joga fora pelo custo da má qualidade na administração médica? Quanto dinheiro as empresas gastam, pagando seus funcionários que procuram ajuda médica e se ausentam do serviço? Quanto dinheiro esse povo doente gasta para se deslocar até os postos de saúde, ou deixam de ganhar por que não estão trabalhando?
Quanto poderia ser mais eficaz os procedimentos médicos se estes dispusessem de mais recursos para investimentos em equipamentos e salas e macas?
O dinheiro do retrabalhado é lixo, e lixo polui. É preciso coragem para uma mudança radical. Nada adianta um ministro ou um secretário de governo vir a público dizer que vai contratar mais médicos porque há muitos doentes num específico hospital flagrado pela mídia televisiva.
É preciso mudar radicalmente. Nada de remendos ou de esparadrapos. | ||||||
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