Escolas Médicas do Brasil

Cursos de medicina em xeque

 13/10/2009

 

13/10/2009

Cursos de medicina em xeque

 

Tenho acompanhado atentamente os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Assembléia Legislativa de São Paulo com a finalidade de investigar a proliferação dos cursos de Medicina, assim como os efeitos deste fenômeno sobre a qualidade dos serviços prestados à população. Mesmo antes do relatório final da CPI, já é possível afirmar que o ensino médico no Brasil tem problemas devido a uma combinação de fatores citados pelas autoridades e especialistas do setor que, infelizmente, acabam trazendo sérias e graves conseqüências para milhões de pacientes do país. Um deles é a abertura indiscriminada de escolas médicas para atender objetivos políticos e econômicos. Segundo o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), São Paulo chegou ao ano de 2009 com 31 escolas de Medicina. Desde o ano 2000 foram abertos oito novos cursos, sendo cinco na Capital e três no Interior. Dos oito, sete são privados. “Na verdade, não precisamos de mais médicos e, sim, de bons médicos”. Esse depoimento do dr. Bráulio Luna Filho, conselheiro do Cremesp, à CPI mostra o real anseio de toda a sociedade brasileira. Ele defendeu que não se abram novos cursos de medicina até que seja concluída a avaliação criteriosa dos cursos já existentes, algo óbvio e sensato.

Mas além da proliferação desordenada dos cursos de Medicina no Brasil, a população também é vítima de outros problemas relacionados diretamente ao pleno exercício profissional. À CPI, especialistas apontaram currículos desatualizados, docentes despreparados e sem dedicação exclusiva, predomínio da técnica e da especialização sobre a humanização do cuidado e da relação com o paciente, e a falta de hospitais-escola, que têm papel fundamental na formação do aluno. As vagas existentes para residência médica nem sempre são proporcionais às necessidades da população. Mesmo assim, o Estado de São Paulo é o que mais oferece vagas de residência médica no país, inclusive para profissionais de outros Estados. O representante do Cremesp chegou a defender na CPI a realização de um exame de habilitação obrigatório para médicos em molde semelhante àquele que já existe para advogados. “Bacharéis em medicina que não reúnam conhecimentos mínimos para clinicar não deveriam receber autorização para fazê-lo. Isso cabe ao Congresso Nacional, com uma legislação federal específica”, disse Luna Filho à CPI. Tal proposta foi reprovada pelo representante da Associação Brasileira da Educação Médica (Abem), Milton Arruda Martins. A Instituição disse ser favorável a uma avaliação teórica e prática ao longo do curso, proporcionando a possibilidade do aluno se adequar, mas antes de sua formatura. Polêmicas à parte, é importante a integração das Escolas de Medicina ao Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, tornar o SUS um instrumento de educação continuada. Também vejo como primordial as escolas se integrarem aos gestores locais de saúde, buscando uma adequação às demandas da sociedade, além da criação de um sistema de avaliação sério, feito por pessoas de fora da escola, uma revisão na grade curricular e que se exija hospital-escola em todas as faculdades de medicina. Afinal, estamos falando de uma profissão que trabalha diariamente para salvar vidas humanas. Portanto, a prioridade é qualidade e não quantidade.


O autor, José Eduardo Amantini, é jornalista

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