Escolas Médicas do Brasil

Estudantes de medicina brasileiros são explorados na Bolívia

 08/11/2009

 

 

Estudantes de medicina brasileiros são explorados na Bolívia


Vergonha: estudantes brasileiros são explorados em Santa Cruz de la Sierra

Os jovens são submetidos a todo tipo de exploração moral e financeira. Eles apresentaram denúncias a comitiva de deputados acreanos.


 

NELSON LIANO JR, DE SANTA CRUZ DE LA SIERRA - A maioria vai para a Bolívia atrás de realizar o sonho de ser médico. No entanto, depois do encontro que aconteceu ontem na UDEBOL, em Santa Cruz de La Sierra, entre cerca de mil estudantes e deputados acreanos, ficou claro que a dura realidade cotidiana do país pode atropelar os sonhos. Os oito parlamentares, mais o presidente da Câmara Municipal de Rio Branco, Jessé Bezerra (PSB), ouviram relatos dramáticos dos universitários brasileiros de Santa Cruz. Os jovens são submetidos a todo tipo de exploração moral e financeira. Grande parte dos estudantes não tem o visto de permanência que garantem a legalidade da situação em terras estrangeira. Porisso, ficam expostos à corrupção e achaques de propinas para poder estudar.

Propinas de um lado, descaso do outro

As reclamações dos universitários foram canalizadas para a sórdida relação com as autoridades bolivianas e com os representantes consulares brasileiros de Santa Cruz e também para as direções das instituições particulares de ensino da Bolívia, que segundo eles, cobram taxas absurdas para todo o tipo de documentação, além de aumentar as mensalidades sem critérios prévios. O cônsul do Brasil, Roberto Pessoa da Costa, ouviu tudo como se estivesse tendo contato com essa realidade pela primeira vez. Vale lembrar que o diplomata representa o Itamaraty em Santa Cruz há sete meses. Os alunos reclamaram do péssimo tratamento que recebem quando procuram o consulado brasileiro.

O embaixador se comprometeu a conversar com a sua equipe para melhorar o serviço. Mas o representante dos alunos acreanos, Adriano, pediu a imediata demissão de todos os funcionários. “Eles estão aqui pagos pelos nossos impostos e não atendem os brasileiros com a mínima dignidade. Podem melhorar durante pouco tempo se forem chamados a atenção, mas tudo voltará a ser como antes,” protestou diretamente ao diplomata.

Dirigindo os trabalhos, o presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), facultou a palavra para as manifestações dos estudantes. Mas a maioria preferia sempre se identificar apenas com o primeiro nome. Eles diziam que o clima de medo entre os estudantes em relação às autoridades bolivianas é constante.  Melina, do terceiro ano de medicina, alegou que o maior problema dos estudantes são as exigências absurdas da migração boliviana. “Não recebemos as orientações devidas para nos legalizarmos. Todas as taxas são altas e, além disso, estamos vulneráveis às propinas que os funcionários bolivianos nos pedem a toda hora. Viemos estudar na Bolívia porque existem poucas vagas para medicina nas federais brasileiras e as particulares são muito caras”, disse ela.

Princípio da reciprocidade: ninguém sabe, ninguém viu

Juliano preferiu chamar a atenção para uma comparação com a forma como os estudantes bolivianos são tratados no Brasil. “Lá os bolivianos não pagam nenhuma taxa. Enquanto aqui nos pedem 25 tipos diferentes de documentos para conseguirmos o nosso visto de estudantes. Além disso temos que pagar tarifas absurdas e agora nos exigem fazer toda essa burocracia em duplicidade. Temos que ir até a fronteira para conseguirmos um visto consular. Não existe nenhuma reciprocidade de tratamento e isso é uma falha da nossa diplomacia muito séria”, ressaltou.

Falta de Segurança

Estudantes brasileiros explorados na BolíviaA maioria dos estudantes também reclamou da falta de segurança. Não se referiram ao caso dos dois brasileiros recentemente assassinados. A questão mais séria para eles são os constantes assaltos que sofrem na cidade. Daniele contou que recentemente num prédio onde moram estudantes brasileiros chegaram e encontraram todos os apartamentos abertos e revirados. “Na verdade a polícia boliviana estava atrás de estudantes ilegais, mas passei um susto tremendo. Tive que me esconder debaixo da escada até os policiais irem embora,”afirmou. No entanto, Viviane reclamou que são muitos os universitários que são assaltados dentro dos microônibus que fazem a rota das universidades para os bairros. Esse é o caso de Adila Matana que já foi assaltada seis vezes. “Os bandidos sabem que quando é a época de pagarmos a nossa mensalidade vamos ao banco para sacar dinheiro. Eles nos marcam e nos seguem. Na semana passada, fui roubada com uma pistola na cabeça na porta da minha casa porque estava sendo seguida. Os bairros próximos a UDEBOL e UCEBOL são muito perigosos porque os ladrões sabem que são cheios de brasileiros para assaltarem,”explicou. Mas o surpreendente em todos os casos de jovens assaltados em Santa Cruz é o fato da indiferença das forças de segurança. “A gente vai registrar o boletim de ocorrência e ainda somos obrigados a pagar 50 bolivianos. Não investigam e nem reprimem os marginais que são conhecidos,” reclamou Adila.

Algumas soluções

omo já vinha de La Paz das reuniões com os ministros bolivianos da Educação e da Justiça, Edvaldo sinalizou com a solução de alguns dos problemas. Explicou que o ministro Roberto Aguilar quer mudar o sistema de acesso dos brasileiros às universidades bolivianas. “Ele quer que sejam feitos cadastro nas secretarias de educação dos estados dos alunos para evitar a exploração. Muitas faculdades bolivianas estão fazendo propaganda e atraindo jovens brasileiros sem depois cumprir com as promessas. Com o cadastro, os Ministérios da Educação do Brasil e da Bolívia poderiam atuar conjuntamente para garantir a qualidade de ensino e a documentação dos brasileiros, “sinalizou.

Quanto ao problema dos vistos, Edvaldo se comprometeu a convocar uma reunião, em Brasília, com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorin, para exigir das autoridades bolivianas a reciprocidade. “Iremos com a nossa bancada federal para discutirmos as possibilidades de cumprimento do acordo de 1939 entre Brasil e Bolívia na questão do intercâmbio estudantil,”garantiu. Edvaldo também anunciou um acordo com a empresa aérea, Aerosur, que faz a ligação entre Cobija, Santa Cruz, La Paz e Cochabamba que garantiu um desconto nas passagens de 16% para estudantes brasileiros e seus parentes que venham em visita.

O presidente da câmara, vereador Jessé  Bezerra (PSB), disse que foi formada uma associação de pais dos alunos na Bolívia, no Acre, para fiscalizar e ajudar os alunos. “O nosso governo ainda não deu valor real à educação e por isso muitos têm que sair do nosso país para estudar fora. Nós não queremos fomentar nenhuma revolta entre os estudantes brasileiros na Bolívia, mas vamos ajudar na questão da segurança dos brasileiros que aqui estudam,”afirmou.

Um outro ponto ressaltado foi a questão da convalidação dos diplomas de medicina no Brasil. Edvaldo disse que o governo do Acre saiu na frente num acordo com a Ufac, que pretende legalizar entre 50 e 100 médicos formados na Bolívia por ano. Na opinião do parlamentar, o exemplo poderá ser seguido por outros estados, abrindo novas possibilidades aos estudantes.

Reportagem para o Portal JuruáOnline


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