08/05/2011
Há algum tempo escrevi sobre este tema que nos é tão caro. Mas, como a história é cíclica e sempre se repete, decidi revisitá-lo.
Vários colegas, leitores do Estadão, me enviaram reportagem de 3 de janeiro de 2011, trazendo noticias sobre a reprovação, quase que total, daqueles que pediram aqui no nosso Brasil varonil, a validação dos seus diplomas conquistados lá fora.
O pífio resultado é avassalador confirmando todos os nossos receios. Dos 628 inscritos para os exames de proficiência e habilitação, 626 médicos foram reprovados.
Todos sabemos que os brasileiros que fazem sua formação em faculdades argentinas, bolivianas e cubanas são aqueles jovens que tentaram o vestibular aqui na nossa terrinha, não conseguiram ser aprovados e fugiram para algum paraíso sem vestibular.
Senhores pais, acordem! A Medicina no Brasil é de excelente qualidade. Melhor insistir em cursinhos preparatórios e repetir este vestibular em casa, até a exaustão ou aprovação, do que adentrar-se em uma desventura: frequentar uma faculdade privada na Argentina e Bolívia e depois ter que enfrentar uma validação aqui dentro infinitamente mais difícil que qualquer vestibular, uma vez que a graduação não os preparou adequadamente.
E residência? Nem pensar. Pois se não conseguem validar o diploma, primeiro passo para chegar em uma residência, estarão fadados a exercer a Medicina clandestinamente, no arrepio da lei. E se são validados os seus diplomas terão que concorrer com os bons para vagas nas especializações. Final triste da história: se conseguirem validação, ainda assim, serão os lanterninhas no exercício profissional.
O que Lula, enquanto presidente, sempre lutou, foi para que essas validações fossem legitimadas automaticamente, sem necessidades de avaliações, como se fazer Medicina na Escola Latino-Americana de Medicina de Havana, em Cuba, onde os alunos são escolhidos, não por mérito, mas por afinidade ideológica, fosse melhor do que fazer Medicina em Harvard, Cambridge ou Oxford.
Em 2009, o governo e as entidades médicas pactuaram um projeto-piloto que foi testado em 2010, ou seja, uma prova de validação única para todas as Universidades e preparada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC.
O resultado está aí: dois médicos aprovados com diplomas validados. O governo insatisfeito anuncia ajustes no processo de validação o que implica em flexibilizar as avaliações.
Não faz sentido reduzir o rigor destas provas, uma vez que se trata de jovens despreparados que não podem ser brindados só porque fizeram seus cursos em países latinos amigos.
O Conselho Federal de Medicina não concorda em registrar estes diplomas, por princípios éticos. Ou se comprova conhecimentos e habilidades, ou teremos maus profissionais colocando a vida das pessoas em risco.
Por outro lado, sabemos da má qualidade de algumas faculdades de Medicina aqui no Brasil (públicas e privadas). Talvez seja a hora de revermos nossos conceitos acerca de validação de diplomas, independente de terem sido graduados em Cuba ou no Brasil. Todos deveriam passar por rigoroso exame da Ordem Médica do Brasil (no modelo da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB), uma vez que não sabemos efetivamente, se os nossos alunos adquiriram as competências desejadas e necessárias para o exercício profissional (diagnóstico, raciocínio clínico, prescrições, habilidades cirúrgicas e avaliar prognósticos).
Alguns alegarão que as provas de residência já são rigorosas e competitivas o suficiente. Concordo em parte. Sabemos que apenas 60% dos egressos são aprovados (por falta de vagas e não necessariamente por falta de competências).
Entretanto jamais saberemos o potencial dos 40% dos doutorandos que não passaram pela residência e foram direto dos bancos da faculdade para o mercado de trabalho, provavelmente para o Programa Saúde da Família e urgências médicas, sem um treinamento adicional.
Será que não seria uma questão ética, de compromisso com a vida e com a saúde pública e mais, de responsabilidade nossa, enquanto líderes, professores, formadores de opinião, impedir que médicos ainda despreparados trabalhem com vidas de forma aventureira e descompromissada? Ou os senhores acham que seis anos de treinamento na formação são suficientes para preparar um médico?
Com a palavra, os meus colegas e a população.