Escolas Médicas do Brasil

Plano MEC e MS prevê abertura de 2,5 mil vagas para Medicina e reduzir desigualdade ( 3 artigos)

 21/07/2011

> O Estado de São Paulo, 19/07/2011 - São Paulo SP
Plano prevê abertura de 2,5 mil vagas de Medicina para reduzir desigualdade
Ministérios da Saúde e da Educação desenvolvem estratégia conjunta para aumentar o número de médicos no País
Fernanda Bassette e Mariana Mandelli

Ministérios da Saúde e da Educação finalizam um plano nacional de educação médica que terá, entre seus objetivos, a meta de aumentar o número de médicos por habitantes no País e tornar mais rígido o processo de abertura de novas vagas em cursos de Medicina. Estudos das duas pastas indicam a necessidade de criação de 2,5 mil vagas, prioritariamente em instituições públicas. Hoje, o Brasil tem 1,8 médico para cada mil habitantes. A ideia do plano é chegar, gradualmente, a pelo menos 2,5 médicos para cada mil pessoas até 2030. Para que isso aconteça, os dois ministérios traçaram um raio X da formação médica no Brasil para identificar as áreas com maior carência. Assim, pretendem expandir a abertura de vagas em cursos de Medicina nas regiões mais deficitárias. Atualmente, o Brasil forma 16,5 mil novos médicos por ano em 183 escolas. A proposta que está em discussão é elevar esse número para 19 mil/ano. As últimas autorizações para abertura de vagas de Medicina foram concedidas no início de 2010 pelo Ministério da Educação (MEC) a duas instituições públicas. Hoje existem 45 processos parados no Conselho Nacional de Educação (CNE). O conselho aguarda a publicação da portaria interministerial que vai definir as novas regras par dar andamento aos pedidos. "Esse plano faz parte de um projeto maior, que

envolve toda a formação na área de saúde, incluindo odontologia, enfermagem, fisioterapia e terapia ocupacional", diz Milton de Arruda Martins, secretário de gestão do trabalho e educação em saúde do Ministério da Saúde. Para chegar ao diagnóstico da falta de médicos por região, o governo dividiu o número de profissionais ativos pela população de cada Estado. Essa conta apontou a cifra de 1,8 médico por mil habitantes. "Mas países que são considerados modelo em atenção à saúde possuem pelo menos 2,5 médicos por mil. E é com esse horizonte que estamos trabalhando", afirma Martins, que reforça que não se sabe se esse número é realmente o ideal. Disparidades. O levantamento mostra o déficit de médicos nas Regiões Norte e Nordeste - que agora viram foco do governo. O Estado do Maranhão possui a situação mais crítica: 0,6 médico para cada mil habitantes. Na contramão estão o Rio de Janeiro e o Distrito Federal, com 3,5 médicos por mil habitantes - número acima da média ideal. São Paulo está exatamente na média que o Brasil quer atingir: 2,5 médicos por mil. Agora os ministérios estão cruzando o número de vagas de Medicina que cada Estado oferece por ano. O cálculo para fazer a projeção sobre a abertura de novas vagas ainda leva em consideração o envelhecimento dos médicos na

ativa e a quantidade de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) disponíveis.

"A questão mais urgente é resolver as disparidades regionais. Isso vai ajudar o MEC a saber quais Estados serão priorizados na abertura de novas vagas de Medicina", diz Martins. Ele exemplifica a situação com o Maranhão, que tem 181 vagas em 3 cursos. "São números insuficientes para suprir a demanda de médicos", afirma. O Rio, por sua vez, oferece 2.516 vagas por ano em 18 escolas. "Não há motivos para abrirmos novas vagas nesse local", afirma Martins. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), não faltam médicos no País - o problema é a distribuição deles. O órgão é contra a expansão de vagas. "E isso só pode ser corrigido erradicando as causas, como a falta de condições adequadas de trabalho, de centros de referência e de uma carreira de Estado que estimule o médico, até mesmo os mais experientes", diz o vice-presidente Carlos Vital. Segundo ele, o CFM só é a favor da criação de novas vagas se elas substituírem as que já existem em escolas ruins. Martins, do ministério, diz que o programa contempla a abertura e o fechamento de vagas ao mesmo tempo. "Fechamos cerca de 800 vagas em dois anos. As exigências estão cada vez mais rigorosas."

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> O Estado de São Paulo, 19/07/2011 - São Paulo SP
Expansão deve ocorrer nas instituições públicas
Fernanda Bassette e Mariana Mandelli

O preço elevado das mensalidades de cursos de Medicina em instituições particulares fez o governo priorizar as universidades públicas no processo de expansão de vagas. Segundo Milton de Arruda Martins, secretário de gestão do trabalho e educação em saúde do Ministério da Saúde, os cursos privados de Medicina que comprovarem qualidade poderão

ser autorizados, mas o governo dará mais atenção às possíveis vagas na rede pública. "Queremos investir na formação. As mensalidades de cursos particulares são muito altas. Tem escola que cobra mais de R$ 6 mil por mês", diz Martins. Os valores pesam no bolso do aluno em praticamente todos os Estados. O Centro Universitário Nilton Lins, no

Amazonas, por exemplo, cobra R$ 5.142 de mensalidade. Na Universidade de Marília (Unimar), em São Paulo, o valor mensal é de R$ 5.989. Já no Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) o custo é de R$ 3.964 mensais no primeiro período, mas a mensalidade ultrapassa R$ 7 mil no último ano do curso.

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> O Estado de São Paulo, 19/07/2011 - São Paulo SP
Recém-formado poderá ter bônus para residência
Médico trabalharia até 2 anos em cidades carentes, no Programa Saúde da Família, e teria vantagem ao prestar exame de residência
Fernanda Bassette e Mariana Mandelli

Além de querer expandir vagas para a formação básica em medicina, o plano nacional de educação médica, que está sendo finalizado pelo governo federal, prevê também a distribuição mais criteriosa das vagas de residência, que formam especialistas. Segundo Milton de Arruda Martins, do Ministério da Saúde, um levantamento do Observatório de Recursos Humanos da Secretaria de Saúde de São Paulo apontou que 82% dos médicos permanecem trabalhando no Estado onde fizeram residência.

"A gente quer garantir as vagas de residência médica de forma que as especialidades sejam distribuídas de acordo com a necessidade de cada Estado", diz. O governo também quer encontrar formas de manter os médicos nos Estados que mais precisam. Uma das ideias em análise é a proposta do serviço civil, que oferece incentivos financeiros para manter o profissional recém-formado em áreas remotas. Voluntariamente. A ideia do governo é que, de forma

voluntária, o médico recém-formado tenha acesso à lista de cidades mais distantes, onde há carência de profissionais, e passe a integrar o Programa Saúde da Família (PSF) por até dois anos.

"Não existe solução única. Ele receberia salário de médico da família (que gira em torno de R$ 9 mil) e poderá ter um bônus de 10% ou 20% como forma de vantagem quando ele prestar o exame de residência", diz Martins, reforçando que o assunto ainda precisa ser mais discutido com a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). "A gente vai oferecer condições para atrair os médicos para o Programa Saúde da Família. Em vez de ele se preparar para o concurso de residência, ele se habilitaria para atender a população. E isso, no futuro, contaria pontos para a prova de residência", diz Jatene. Coerção. O Conselho Federal de Medicina (CFM) refuta a proposta de beneficiar na prova de residência os médicos que participem do programa. "A medida não configura

voluntariedade e também é uma forma de coerção", avalia Carlos Vital.

"É um desrespeito ao egresso remetê-lo a áreas longínquas e sem condições de trabalho, e também à população do local, que será servida por profissionais recém-formados, tensos e ansiosos pelas condições de trabalho e pela pouca experiência. Não é justo com o médico nem com a população", diz Vital. Antonio Carlos Lopes, médico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-secretário executivo da CNRM, tem posição semelhante. "Dessa forma, o mérito é jogado fora. Quem participa do Programa Saúde da Família é médico iniciante que quer juntar dinheiro e profissional em fim de carreira", diz. "É ruim para a população, porque os recém-formados são médicos, mas não são especialistas." A atual secretária executiva da CNMR, Maria do Patrocínio Tenório Nunes, disse que prefere ter conhecimento do plano para opinar.

 


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