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Nem mesmo salário de R$ 25 mil atrai médicos para interior de MT

 03/06/2013

 

Em Porto Estrela, a cerca de 180 quilômetros de Cuiabá, a estratégia da prefeitura diante da falta de médicos foi aumentar o salário para pouco mais de R$ 25 mil para uma jornada de 40 horas semanais. Mesmo assim, desde dezembro a cidade não conta com nenhum especialista para atender os 4 mil moradores.

O secretário da Saúde, Manuel Odir da Cruz, conta que a falta de médicos sempre foi um problema em Porto Estrela. 'Na administração anterior chegou a ser feito um concurso e teve um médico aprovado, mas foi demitido porque ele não vinha trabalhar', lamenta Odir. Segundo ele, aliado a falta de estrutura para um atendimento mais especializado, a cidade não conta com atrativos para que pessoas de fora se interessem em viver no local.

'Para chegar aqui são 35 quilômetros de estrada de chão, não temos uma boa lanchonete, um supermercado grande. Eles (médicos) querem um bom restaurante, uma academia, nossa cidade não tem essa estrutura e as pessoas acabam desanimando de morar aqui', conta.

Sem atendimento médico no único posto de saúde, a população precisa se deslocar para o município vizinho, de Barra do Bugres, e percorrer os 35 quilômetros de estrada de chão para consultar. Nos casos de emergência, a prefeitura disponibiliza uma ambulância, que já está em situação precária, para o transporte. 'Muitas complicações de doença poderíamos evitar se tivéssemos um médico aqui, mas ninguém quer', diz o secretário.

Tanto em Porto Estrela quanto na cidade gaúcha de Camargo, os gestores defendem a contratação de estrangeiros para minimizar o problema da falta de médicos a curto prazo, mas pedem mais. 'Me preocupo com a questão da língua com essa vinda dos estrangeiros. Nossa população é carente e se não dominar bem o idioma, esses médicos não vão conseguir se comunicar. Mas acho que já é alguma coisa', afirma Odir.

 

Conselho de Medicina é contra pagar faculdade a médicos


O Conselho Federal de Medicina (CFM) é contra que o governo federal e os municípios financiem a faculdade de medicina de estudantes. Segundo o conselheiro Mauro Ribeiro, qualquer tipo de obrigação para que os médicos atuem em determinada comunidade, mesmo que isso represente o pagamento por um curso superior, não deve ser aceito. 'O médico deve ser livre para atuar onde quiser depois de formado', afirma.

O conselho também é contrário a vinda de médicos estrangeiros sem que passem pelo Exame de Revalidação dos Diplomas (Revalida). Para o CFM, a solução está na construção de uma carreira para médicos, como já ocorre com os juízes e promotores, por exemplo. 'De nada adianta um prefeito oferecer um salário de R$ 25 mil e obrigar o médico a trabalhar 16 horas por dia, em um posto de saúde que não é equipado. O médico quer boas condições de trabalho', afirma.

Para ter uma ideia de como o salário não é o principal diferencial, em Cuiabá, a capital do Mato Grosso, um médico ganha em média R$ 7,5 mil para atender pelo SUS. A prefeitura garante que, mesmo com um salário 30% menor ao pago em Porto Estrela, não faltam profissionais interessados em atender na capital.


O que diz o Ministério da Saúde


O Ministério da Saúde disse, por meio de sua assessoria, que a contratação de médicos estrangeiros é apenas um das medidas para resolver a deficiência de profissionais da saúde na periferia do Brasil. De acordo com a pasta, o País tem hoje uma média de 1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do que em outros países, como a Argentina (3,2) Portugal e Espanha, ambos com quatro por mil habitantes.

Outra proposta, que está em desenvolvimento junto ao Ministério da Educação (MEC), é a abertura de novas vagas em cursos de medicina e em residência com foco nas regiões que mais precisam e que possuem estrutura para formar com qualidade os profissionais. Ainda segundo o ministério, a importação de médicos é vista com bons olhos em outros países e experiências do exterior estão sendo analisadas pelo governo Brasileiro.



 



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