Escolas Médicas do Brasil

Cidade do RS oferece até faculdade 'de graça' para conseguir médicos

 03/06/2013

 

Angela Chagas - Terra Educação - 03/06/2013 - São Paulo, SP


Enquanto o governo brasileiro trava um embate com associações médicas por causa da proposta de importar médicos estrangeiros para atender a população, municípios do interior do País usam de todos os artifícios para conseguir atrair os profissionais. Em Camargo, a 270 km de Porto Alegre (RS), o salário de cerca de R$ 16 mil não é suficiente para que médicos se interessem em trabalhar na cidade de pouco mais de 2 mil habitantes. Para tentar solucionar o problema, a prefeitura decidiu pagar a faculdade de medicina para estudantes residentes na cidade que se comprometam a trabalhar no local por pelo menos cinco anos depois de formados.

'É sempre o mesmo dilema. Conseguimos um médico, ele fica no máximo um ano e vai embora. Eles não querem morar numa cidade pequena, que não oferece oportunidade para crescer mais e se especializar', diz a vice-prefeita, Eliani Trentin. Ela tem esperança que a lei, sancionada no final de 2011, possa acabar com o dilema de não saber se no próximo mês o médico contratado vai continuar prestando o serviço.

Pela proposta, moradores da cidade há pelo menos cinco anos que tenham sido aprovados no vestibular de medicina de qualquer instituição privada - não importa o valor da mensalidade - terão todo o curso custeado pela prefeitura desde que se comprometam a retornar à cidade depois de formados e trabalhar até pagar o investimento (a estimativa é que serão necessários de cinco a seis anos). Nesse período, o médico beneficiado vai receber apenas um auxílio de dois salários mínimos, cerca de R$ 1350.

A ideia, que já despertou o sonho de muito estudantes da cidade, ainda não foi colocada em prática, já que nenhum morador foi aprovado no vestibular. 'Como é preciso residir aqui há mais de cinco anos, ficamos um pouco restritos. Mas eu acredito que em breve teremos os primeiros universitários participando do projeto', projeta a vice-prefeita.

Edes de Mello Rosa, 28 anos, é um dos que veem na proposta da prefeitura uma oportunidade de mudar de vida e ainda ajudar a população da cidade onde nasceu. Filho de agricultores, ele trabalha como agente de saúde da prefeitura e ainda faz bicos como auxiliar de enfermagem na cidade vizinha de Marau. Mesmo sem tempo de se dedicar aos estudos, ele acredita que vai conseguir realizar o sonho.

'Agora no segundo semestre quero fazer um cursinho. Essa é a oportunidade da minha vida porque nunca teria como pagar pela faculdade, nem tenho condições de passar no vestibular de uma universidade pública', conta o jovem, que tem esperança de ser aprovado na seleção para a Universidade de Passo Fundo (UPF), localizada a cerca de 50 quilômetros de Camargo.

Questionado se gostaria de permanecer na pequena cidade do interior depois de formado, Edes não hesita: 'Nasci aqui, nunca pensei em sair'. Sobre a possibilidade de ir para cidades maiores se especializar, ele diz que Passo Fundo oferece um bom ensino médico e que não precisaria ir para grandes centros para fazer residência médica. 'Muita gente critica essa proposta, dizem que dois salários é muito pouco, mas e todo o aprendizado? Essa oportunidade é única. Sem contar que vou poder fazer plantões e ganhar mais', diz. Na lei municipal, a jornada do médico é de 30 horas semanais na unidade básica de saúde, mas não restringe o profissional a fazer atendimentos particulares e plantões em hospitais da região fora desse horário.

Este ano, Camargo conseguiu contratar uma médica para atender em turno integral e outro para trabalhar 20 horas semanais. Mas a prefeitura não sabe por quanto tempo eles vão continuar na cidade, já que os contratos são temporários. A prefeitura já tentou fazer concurso público, mas não houve nenhum interessado. Segundo a vice-prefeita, não é por falta de estrutura que os médicos rejeitam Camargo.

'Temos duas unidades de saúde perfeitamente equipadas para o atendimento básico, claro que não fizemos cirurgias e procedimentos mais complexos, mas temos equipamentos para exames, contamos com enfermeiros, fonoaudiólogas, nutricionistas, farmacêuticos, dentistas. O problema é mesmo o médico', lamenta.




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