23/01/2008
Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música |
SEMPRE QUE SE FALA EM EUTANÁSIA ,os seus opositores invocam razões éticas e teológicas. Dizem que a vida é dada por Deus e que, portanto, somente Deus tem o direito de tirá-la. Eutanásia é matar uma pessoa e há um mandamento que proíbe isso. Assim, em nome de princípios universais, permite-se que uma pessoa morra em meio ao maior sofrimento.
Pois eu afirmo: sou a favor da eutanásia por motivos éticos. Albert Camus, numa frase bem curta, disse que, se ele fosse escrever um livro sobre ética, 99 páginas estariam em branco e na última página estaria escrito "amor". Todos os princípios éticos que possam ser inventados por teólogos e filósofos caem por terra diante dessa pequena palavra: "amar". Deus é amor.
O amor, segundo os textos sagrados, é fazer aos outros aquilo que desejaríamos que fosse feito conosco, numa situação semelhante. Amo os cães e já tive dezenas. Muitos deles eu mesmo levei ao veterinário para que lhes fosse dado o alívio para o seu sofrimento. Fiz isso porque os amava, eram meus amigos, queria o bem deles. E eu gostaria que fizessem o mesmo comigo, se estivesse na situação de sofrimento deles.
Defender a vida a todo custo! De acordo. É a filosofia de Albert Schweitzer e a filosofia de Mahatma Gandhi: reverência pela vida. Tudo o que vive é sagrado e deve ser protegido. Mas, o que é a vida? Um materialismo científico grosseiro define a vida em função de batidas cardíacas e ondas cerebrais. Mas será isso que é vida? Ouço os bem-te-vis cantando: eles estão louvando a beleza da vida. Vejo as crianças brincando: elas estão gozando as alegrias da vida. Vejo os namorados se beijando: eles estão experimentando os prazeres da vida. Que tudo se faça para que a vida se exprima na exuberância da sua felicidade! Para isso, todos os esforços devem ser feitos.
Mas eu pergunto: a vida não será como a música? Uma música sem fim seria insuportável. Toda música quer morrer. A morte é parte da beleza da música. A manga pendente num galho: tão linda, tão vermelha. Mas o tempo chega quando ela quer morrer. A criança brinca o dia inteiro. Chegada a noite, ela está cansada. Ela quer dormir. Que crueldade seria impedir que a criança dormisse quando o seu corpo quer dormir.
A vida não pode ser medida por batidas e coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso. Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato.
Vamos levar o argumento à suas últimas conseqüências: se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisa que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente, se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente, porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus.
A vida, esgotada a alegria, deseja morrer. O que eu desejo para mim é que as pessoas que me amam me amem do jeito como eu amo os meus cachorros.
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Comentário de um internauta
RICARDO
A mensagem ou artigo do professor Rubem Alves é perigosa. Perigosa porque ele pertence a uma elite intelectual que pelos feitos passados sempre podem repercutir posições em temas polemicos,fazendo com que a opinião pública simpatize com as teses ali consginadas, sem se aperceber exatamente do que esta se defendendo. Eu, com a devida venia, ouso discordar.Ele está completamente equivocado na sua opinião sobre a eutanasia e sobre a vida.Nosso simpatíco articulista foi uma espécie de avô da teoria da libertação cujo espoente midiático foi o frei leonardo boff. Isso não foi pouca coisa partindo-se do principio que o nosso personagem foi pastor presbiteriano. Da crença absoluta ao completo ateísmo foi umm passo que parece ter causado, em sua filosofia, profundas modificações. Cita Camus, ora,Camus foi um deprimido, segundo alguns pela incapacidade de assumir sua pederastia(sinceramente não sei se a conclusão é correta)e, segundo outros, pela tuberculose que lhe impediu após a conclusão de seu doutorado de lecionar que era o seu verdadeiro objetivo.(essa me parece ser mais crível). Se a vida não for vivida na plenitude e na felicidade segundo o nosso articulista não vale a pena ser vivida. Sob esta ótica, Camus deveria ser morto por alguma alma caridosa que deveria por fim a tanto sofrimento e infelicidade. Camus teve como base filosofica o doutor da igreja catolica santo agostinho, que pregava uma espécie doutrina de moral e etica mais pratica do que filosofica. Deu resultado, graças a isso, a igreja que hoje conhecemos esta estruturada sobre os alicerçes filosoficos e morais por ele concebidos. A divindade de cristo deve muito de sua existência ao combate ferenho que fez contra o Arianismo, que sempre considerou heretico. Praticar a eutanasia. Sim, mas quem seria o agente ativo deste ato; quem deligaria as maquinas, negaria comida e permitiria o sofrimento que a morte provoca. O articulista; o médico , algum familiar. quem seria o carrasco? Algumas coisas, com o passar do tempo ficam melhores dizem que com o vinho é assim( não todos, somente os tintos e ainda assim não na totalidade). Com os filosofos devia-se passar a mesma coisa, mas, infelizmente também não é assim. No caso do nosso articullista, ele não resistiu e, a falta de argumentos mais consistentes para a sua pueril filosofia de resultados, namorou e usou do sofisma para arregimentar simpatias para sua tese. Quando ao aspecto médico, não tenho dúvidas que o tema é polemico mas, do ponto de vista filosofico, a questão já foi resolvida a tempos. "Não ferir", primeira regra é do conhecimento de todos além disso, a discussão filosofica sobre a vida e a morte´- sobre a preservação da primeira e o afastamento da última, também já foi resolvido no sec.XVIII, pelos iluministas. No mais simpatizo com o seu amor aos bichos e a natureza.Nada mais
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