15/12/2009
HÁ PEQUENOS PRÍNCIPES EM SUA EMPRESA?
Neste mês, visitei a exposição do Pequeno Príncipe na OCA, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Uma festa para os olhos e para a alma. Havia magia e emoção no ar. Havia ternura e empatia entre os presentes – quase uma cumplicidade. E eu não pude deixar de pensar que tudo aquilo era exatamente o que está faltando à maioria dos dirigentes e gestores das organizações. Como o leitor deve saber, o atual ambiente hostil e cruel de muitas empresas preocupa estudiosos, profissionais da saúde, entidades ligadas a direitos humanos e qualidade vida – e até autoridades governamentais. A disseminação das mensagens humanas, pacíficas e sensíveis do Pequeno Príncipe certamente ajudariam muito a transformar o local de trabalho em centro de lucros e realizações e não de ameaças e sofrimentos.
Mas se nem os suicídios anunciados, nem o mortal estresse que assola as empresas, na forma do terrível burnout, nem o aumento dos processos trabalhistas por assédio moral - se nem esses dramas, prejuízos e ameaças estão sensibilizando aquelas organizações para a necessidade de uma urgente revisão da qualidade das relações no trabalho e das formas de pressão para aumento de produtividade, é difícil imaginar o que poderá ser feito para mudar o quadro. Pela mesma razão é fácil imaginar porque o Pequeno Príncipe não tem acesso a essas empresas. E, no entanto, há tantas boas lições de liderança descritas pelo principezinho...
“Cativar é criar laços. Se tu me cativas, teremos necessidade um do outro”.
Haverá melhor maneira de se obter o espírito de equipe, a lealdade, a parceria e o comprometimento? Bastará ao gestor cativar seus colaboradores. Simples assim.
“O essencial é invisível para os olhos”.
Não seria esta a melhor forma de conduzir os processos de seleção de pessoal? Buscando descobrir a essência dos candidatos ao invés dos seus títulos acadêmicos?
Quando um desenho é mostrado às pessoas com a pergunta: “este desenho te dá medo?”, a resposta dos adultos sempre é: “por que o desenho de um chapéu me daria medo?” O pessoal que anda tão interessado em criatividade e inovação deveria ler pelo menos esse trecho para descobrir que não se trata de um chapéu. Como se pode falar de inovação e criatividade quando se vê teimosamente um chapéu num desenho que mostra, no seu significado, toda a capacidade da fantasia e da imaginação?
A maioria das empresas hoje parece povoada por “cogumelos” – que, na sua indignação, é como o Pequeno Príncipe chama as pessoas que só pensam em coisas “sérias”, como números, contas e resultados... - pessoas que “nunca cheiraram flores, olharam estrelas e nunca amaram ninguém”.
Enfim, certamente não será este artigo que fará as empresas darem crachá ao Pequeno Príncipe. Nem será por causa dele que alguma empresa designará um dia e hora para que todos os seus funcionários visitem a exposição. Ou, quem sabe, aproveitando o Natal, distribuam o livro para suas equipes. Não creio. Se isso acontecer (e eu gostaria de ser informado), prefiro acreditar que será um milagre de Natal. De qualquer maneira, fica aqui a sugestão.
Enquanto isso, o Pequeno Príncipe continuará sua jornada vitoriosa de encantar pessoas de 8 a 80 anos. Diante desse continuo sucesso do livro, só resta aos resistentes e críticos torcerem os próprios narizes. Ou tentarem a experiência de cativar alguém. Penso que não há muito que hesitar entre ficar de nariz torto ou ganhar uma legião de amigos e de colaboradores felizes.
Floriano Serra é psicólogo, consultor, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-presidente da SOMMA4 Projetos em Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH e Qualidade de Vida de empresas nacionais e multinacionais. E-mail: florianoserra@somma4.com.br