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HÁ PEQUENOS PRÍNCIPES EM SUA EMPRESA? - por Floriano Serra

 15/12/2009

 

HÁ PEQUENOS PRÍNCIPES EM SUA EMPRESA?

 

Por Floriano Serra*
           
        Desde que foi lançado em 1943, o livro O Pequeno Príncipe, do jornalista e piloto francês Antoine de Saint-Exupéry já vendeu mais de 80 milhões de exemplares e foi traduzido para, pelo menos, 160 idiomas, atravessando gerações. Apesar desse sucesso fenomenal, ainda hoje encontramos pessoas pedantes e insensíveis que desqualificam essa extraordinária obra – que, aliás, é um dos meus livros de cabeceira – há décadas. Essas pessoas: não sabem o que dizem e nem o que estão perdendo. Aliás, a explicação para essa atitude está no próprio livro: “só se vê (ou se lê) bem com o coração”. Lóóógo...

 

        Neste mês, visitei a exposição do Pequeno Príncipe na OCA, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Uma festa para os olhos e para a alma. Havia magia e emoção no ar. Havia ternura e empatia entre os presentes – quase uma cumplicidade. E eu não pude deixar de pensar que tudo aquilo era exatamente o que está faltando à maioria dos dirigentes e gestores das organizações. Como o leitor deve saber, o atual ambiente hostil e cruel de muitas empresas preocupa estudiosos, profissionais da saúde, entidades ligadas a direitos humanos e qualidade vida – e até autoridades governamentais. A disseminação das mensagens humanas, pacíficas e sensíveis do Pequeno Príncipe certamente ajudariam muito a transformar o local de trabalho em centro de lucros e realizações e não de ameaças e sofrimentos.

        Mas se nem os suicídios anunciados, nem o mortal estresse que assola as empresas, na forma do terrível burnout, nem o aumento dos processos trabalhistas por assédio moral - se nem esses dramas, prejuízos e ameaças estão sensibilizando aquelas organizações para a necessidade de uma urgente revisão da qualidade das relações no trabalho e das formas de pressão para aumento de produtividade, é difícil imaginar o que poderá ser feito para mudar o quadro. Pela mesma razão é fácil imaginar porque o Pequeno Príncipe não tem acesso a essas empresas. E, no entanto, há tantas boas lições de liderança descritas pelo principezinho...

         “Cativar é criar laços. Se tu me cativas, teremos necessidade um do outro”.
        Haverá melhor maneira de se obter o espírito de equipe, a lealdade, a parceria e o comprometimento? Bastará ao gestor cativar seus colaboradores. Simples assim.

        “O essencial é invisível para os olhos”.

        Não seria esta a melhor forma de conduzir os processos de seleção de pessoal? Buscando descobrir a essência dos candidatos ao invés dos seus títulos acadêmicos?

        Quando um desenho é mostrado às pessoas com a pergunta: este desenho te dá medo?”, a resposta dos adultos sempre é: “por que o desenho de um chapéu me daria medo?” O pessoal que anda tão interessado em criatividade e inovação deveria ler pelo menos esse trecho para descobrir que não se trata de um chapéu. Como se pode falar de inovação e criatividade quando se vê teimosamente um chapéu num desenho que mostra, no seu significado, toda a capacidade da fantasia e da imaginação?

        A maioria das empresas hoje parece povoada por cogumelos – que, na sua indignação, é como o Pequeno Príncipe chama as pessoas que só pensam em coisas “sérias”, como números, contas e resultados... - pessoas que “nunca cheiraram flores, olharam estrelas e nunca amaram ninguém”.

        Enfim, certamente não será este artigo que fará as empresas darem crachá ao Pequeno Príncipe. Nem será por causa dele que alguma empresa designará um dia e hora para que todos os seus funcionários visitem a exposição. Ou, quem sabe, aproveitando o Natal, distribuam o livro para suas equipes. Não creio. Se isso acontecer (e eu gostaria de ser informado), prefiro acreditar que será um milagre de Natal. De qualquer maneira, fica aqui a sugestão.

        Enquanto isso, o Pequeno Príncipe continuará sua jornada vitoriosa de encantar pessoas de 8 a 80 anos. Diante desse continuo sucesso do livro, só resta aos resistentes e críticos torcerem os próprios narizes. Ou tentarem a experiência de cativar alguém. Penso que não há muito que hesitar entre ficar de nariz torto ou ganhar uma legião de amigos e de colaboradores felizes.

Floriano Serra é psicólogo, consultor, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-presidente da SOMMA4 Projetos em Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano. Ex-diretor de RH e Qualidade de Vida de empresas nacionais e multinacionais. E-mail: florianoserra@somma4.com.br

 


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