19/06/2013
Foi falta
O ministro da Saúde, o médico egresso da Universidade de Campinas, Alexandre Padilha, tem recorrido à mídia com dois propósitos: promover a imagem como provável candidato ao governo de São Paulo e terceirizar a responsabilidade do caos em saúde pública aos médicos brasileiros. Tem sido ainda recorrente a afirmação de que “faltam médicos no Brasil”.
O grande entrave é que há pouca voz do outro lado. Parece ser cômodo validar a justificativa do Ministro quando se tem informação de que em vários municípios brasileiros não há médicos. O problema, no entanto, requer outra visão: por que então faltam médicos?
A resposta está sendo dada pelos médicos brasileiros, que, como pouco se viu nas últimas décadas, estão avolumando críticas e denunciando os descasos: estão diagnosticando que a saúde pública brasileira agoniza, em um estado cadavérico de manutenção, já definhando a partir de uma inanição crônica.
Dando coro à afirmação ministerial, digo que realmente faltam médicos no Brasil... Faltam médicos que aceitem receber salários atrasados por meses, que aceitem não ter estabilidade no emprego, que aceitem atender em unidades de saúde sem equipamentos elementares, sem segurança e sem equipe multiprofissional e sem uma rede de referência à disposição que possa resolver aquilo que nos foge da formação generalista. Faltam médicos que tolerem servir de peça eleitoreira para prefeitos, que aceitem não ter férias ou 13º salário, que aceitem ficar distantes dos centros de formação e qualificação continuada, que aceitem salários cada vez mais minguantes, que aceitem rotinas subumanas de trabalho...
Senhor Ministro, se estiver olhando na perspectiva que apresentei, confirmo as declarações que tem dado. Sem dúvida, nas condições de saúde que o senhor nos oferta hoje, faltam muitos médicos... No entanto, nesse jogo social, a culpa não é nossa: o senhor é que está fazendo a falta!
João Brainer Clares de Andrade
Acadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará