27/04/2008
Atendimento em pediatria está à beira de um colapso
Na UFMG, procura pela especialidade caiu de 20% para 5% em 15 anos
EUGÊNIO MARTINS
O atendimento pediátrico em Minas está operando no limite e caminha para o risco de um colapso. De acordo com a Sociedade Mineira de Pediatria, o número de médicos pediatras vem diminuindo nos hospitais públicos, privados e nas universidades.
Dados da entidade mostram que Belo Horizonte possui cerca de 1.800 pediatras e Minas pouco mais de 4.000. Desses, pelo menos 500 já desistiram de atuar no ramo e mudaram de especialidade.
Além disso, o número de profissionais que chega ao mercado de trabalho é cada vez menor. Nas faculdades de medicina, a falta de interesse por residência em pediatria é sentida de forma crescente. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, há cerca de 15 anos 20% dos alunos do curso de medicina optavam pela especialidade de pediatria. Hoje, esse índice gira em torno de 5%.
O professor titular de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas, Narlantino Alves Filho, informa que na instituição o índice também caiu de 10% a 12% para 2%, também nos últimos 15 anos. "Neste ano, tivemos que receber gente de outros Estados para preencher as vagas na residência", disse.
Segundo ele, um dos motivos que levam os pediatras a desistir é a remuneração mais baixa. O Sistema Único de Saúde paga cerca de R$ 7 por consulta e um plano de saúde R$ 30, incluindo os retornos. "O problema é que um terço das crianças volta ao consultório até quatro vezes no mesmo mês por problemas diferentes."
O professor Lincoln Marcelo Freire, do departamento de pediatria da UFMG, afirma que, além da diminuição no número de estudantes, a faculdade nota um aumento no número de formados que procuram especialização em outras áreas para conseguir maior remuneração. Para ele, há a necessidade de aumentar o investimento governamental na atenção primária, onde estão cerca de 80% dos pediatras.
Hospitais. Nos últimos seis anos, 16 hospitais particulares da Grande Belo Horizonte fecharam o setor de pediatria. "As instituições desativaram o serviço porque não era rentável", afirma o diretor da Sociedade Mineira de Pediatria, Mário Lavaroto da Rocha.
Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, Fernando Mendonça, com a implantação do Programa Saúde da Família na rede pública, os postos de trabalho para pediatras foram reduzidos nos centros de saúde e hoje praticamente se restringem às unidades de emergência.
Um médico da rede pública chega a receber pouco mais de R$ 1.200. Nesta época do ano, a demanda aumenta cerca de 30%, devido a doenças respiratórias. "Os pediatras chegam a fazer mais de 50 atendimentos em um plantão e enfrentam dificuldades quando têm que encaminhar a criança para internação", afirma.
A Secretaria de Saúde da capital admite dificuldades para preencher vagas nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). "Alguns médicos convocados não assumem. Outros não se estabilizam no cargo", afirma a gerente de assistência básica da secretaria, Sônia Gesteira.
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