13/07/2009
A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) defendeu hoje um "acesso igual para todos", considerando que a abertura do concurso especial para licenciados potencia a opção dos alunos por cursos que facilitam o acesso posterior à Medicina.
"A abertura deste concurso especial contraria a igualdade de acesso, a uniformização criada por Bolonha e potencia a formação de cursos-trampolim, ou seja, cursos que são especificamente criados para que as pessoas se possam candidatar posteriormente às vagas em Medicina", criticou a presidente da ANEM, Inês Laíns.
Este ano estão a concurso 1658 lugares nas faculdades de Medicina, mais 44 vagas do que aquelas que foram abertas para o ano lectivo 2008/09. Novidade é também o concurso especial de acesso que foi aberto para estudantes que já possuem uma licenciatura.
O "número excessivo de vagas" aberto nos cursos de acesso para licenciados já foi criticado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, que considera que esta situação pode traduzir-se "numa enorme injustiça para quem teve de estudar muito para conseguir entrar na Faculdade de Medicina". Opinião partilhada pela presidente da ANEM, que lembra que os estudantes que chegam à Medicina oriundos de outros cursos "demoram ainda mais tempo a chegar ao Serviço Nacional de Saúde" e envolvem "também mais custos para o Estado".
Quanto às vagas abertas este ano nas faculdades, Inês Laíns afirmou "não perceber" como é que o número continua sempre a aumentar. "Ficámos satisfeitos por este ano o aumento não ter sido tão grande como em anos anteriores, mas continuamos a achar que não faz qualquer sentido que as vagas continuem a aumentar de ano para ano", frisou.
A presidente do ANEM lembrou que o número de vagas em Medicina fixado para corresponder às necessidades do país no plano estratégico para a formação nas áreas de saúde "já há muito foi ultrapassado". Criado por um grupo de missão liderado pelo professor Alberto Amaral, em 2001, este plano aponta para a fixação de um numerus clausus em torno das 1100 vagas anuais, um "número claramente inferior aos 1658 lugares abertos este ano", referiu.
Segundo Inês Laíns, o aumento constante do número de vagas também se reflecte na qualidade de ensino: "Em muitas escolas médicas actuais há - especialmente nos anos clínicos - um elevado número de estudantes por assistente ou tutor e isto é claramente uma situação que prejudica a formação". Quanto às dúvidas do bastonário sobre as capacidades que o Estado tem para garantir o internato aos estudantes que este ano serão admitidos em Medicina, Inês Laíns foi peremptória: "Não tínhamos conhecimento de que isto poderia vir a ser um problema. É claro que isto nos preocupa, mas o Ministério da Saúde sempre nos assegurou que a formação em internato estaria garantida."