14/07/2008
Daniela Nogueira
da Redação
Até ontem, eram 125. Mas o número aumenta a cada dia. São médicos que se formaram no Exterior e recorrem à Universidade Federal do Ceará em busca da revalidação que permite a eles atuar no Brasil. Eles estão acampados em frente ao Campus do Pici para garantir os primeiros lugares durante a inscrição
O número de pessoas acampadas só cresce em frente ao Campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no último domingo. Até o fim da tarde de ontem, eram 125. Em comum? São todos médicos, vindos de outros estados e formados no Exterior. Vieram atraídos pela possibilidade de terem um documento que lhes permite trabalhar no País. É a revalidação do diploma de graduação. O que eles têm só é aceito no país em que se formaram. Para atuarem no Brasil, eles precisam que uma universidade federal legitime o documento. Nem sempre é fácil, dizem.
Receosos, depois de muita insistência, até aceitam conversar, mas não ousam dizer o nome à imprensa. Alegam sofrer preconceito por não serem formados no País. Muitos já correram Brasil afora em busca da revalidação. Grande parte teve o processo indeferido em outras instituições. Isso ocorre quando a documentação exigida não é entregue ou quando o currículo dos candidatos não é compatível com o da universidade em que ele solicita revalidação. Nesses casos, é necessário que haja uma complementação de estudos.
Os médicos acampados próximo ao Pici têm passado dia e noite lá. Dormem nas barracas que montaram. Entre eles, há formados na Bolívia, Cuba, Chile, Peru, Argentina, Panamá e Venezuela. Vieram de todo canto do País. São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Maranhão - só para citar alguns estados. As inscrições para a abertura do processo de revalidação só começam na segunda-feira, 7, e seguem por duas semanas. A taxa individual é de R$ 1.500,00. Não há limite de candidatos, mas os 60 primeiros que se inscreverem devem ter o processo analisado em até seis meses. Os próximos 60 têm um prazo de mais seis meses para receberem um parecer final.
Por isso que a fila começou. Todo mundo queria garantir logo seu espaço entre os 60 primeiros. A UFC diz que não pode interferir na formação de fila antes do dia 7. Os candidatos, então, começaram a se organizar. Foram definidos cinco líderes para cada grupo de 60 pessoas e dado um número a cada um dos 125 que estão lá. É esse número que define o lugar na fila. É baseado na ordem de chegada ao "acampamento". "Resta saber se esse acordo vai ser mantido por eles mesmos. Esperamos que isso seja respeitado. O procedimento de recepção de material vai ser tranqüilo", assegura o pró-reitor de graduação, professor Custódio Almeida.
Alta demanda
Não há, na UFC, periodicidade determinada para a abertura de edital para o processo de revalidação. A última vez que ocorreu foi em 2005. "Se não fosse por Medicina, que tem uma demanda muito alta, abriríamos edital todos os anos", diz o pró-reitor. Há três anos, houve 689 pedidos de revalidação. Desses, somente 10 não eram de Medicina. Houve pedidos também de Letras, Engenharia, Odontologia e Enfermagem. Do total, 10 foram indeferidos; 292 candidatos não retornaram à universidade quando a comissão precisou de informações; e 387 tiveram o processo revalidado.
É um número muito alto, admite o professor Custódio. "A medicina é uma área muito concorrida no Brasil. No Exterior, principalmente em países da América Latina, é mais fácil ingressar. A comissão pode analisar os cursos de origem a partir dos documentos comprobatórios. Algumas (universidades) são mais conhecidas e a comissão facilmente identifica. Há umas mais novas e, nesses casos, a comissão tem que se debruçar com grau mais alto de exigência", afirma.
SERVIÇO
O edital de revalidação de diploma está disponível no portal da UFC: www.ufc.br
SAIBA MAIS
Devem participar do processo de revalidação de diploma os brasileiros que se formaram no Exterior ou os estrangeiros que querem atuar no Brasil.
No último processo da UFC, todos os médicos com diplomas revalidados precisaram fazer complementação de estudos para que o currículo fosse equiparado ao da UFC. Essa complementação não precisa ser na UFC, que não tem condições de oferecer.
Os alunos devem procurar universidades credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC). “A UFC nunca ofertou, porque já tem uma demanda alta do curso”, explica Custódio Almeida.
Ele cita que, após a análise da comissão, a maior parte precisa fazer complementação de estudos. Os candidatos procuram uma universidade e devem voltar à UFC. A comissão analisa e faz a revalidação, se for o caso.
FALE COM A GENTE 02/07/2008
danielanogueira@opovo.com.br